Estes homens maravilhosos e suas guerras fantásticas

Rio, 15 de abril de 2003

Estão destruindo a história da nossa humanidade. Pra quem pensava que o World Trade Center era uma das Sete Maravilhas do Mundo, bem merece o governo que tem. A ignorância e a falta de cultura se extende do mais baixo nível ao mais elevado cargo hierárquico, que é de Collin Powell. Os militares americanos trataram o Iraque como se este país fosse a periferia do mundo. Bilhões de dólares de um patrimônio cultural mundial foram destruídos pela total descaradeza do comando dos invasores, que se ativeram a apenas proteger os poços, refinarias e organismos ligados à produção de petróleo. Muita cara-de-pau… Ainda vem um idiota qualquer falando na TV que isso é uma fase transitória. É normal essas coisas acontecerem. Estava muito pior antes... É, meu velho... Torça pra que fases transitórias como esta que o Iraque está passando também não aconteçam por aí... Torço pelos amigos que deixei nos EUA, também.

Esta guerra está causando uma situação muito chata em todo o mundo. As pessoas estão passando a ter um sentimento anti-americanista - o que eu reprovo. Por eu ter vivido nos EUA por 6 anos, tive boas experiências com americanos e pude constatar que se trata de um povo muito disciplinado, muito esforçado e muito trabalhador. Pode até não ser um povo brilhante, mas o americano é responsável e cumpridor de seus deveres, que é o que, em verdade, se ensina nas escolas. Opiniões que boa parte dos americanos e de qualquer um que viva nos EUA são mais fruto da poderosa ferramenta de propaganda da extrema-direita do que qualquer outra coisa.

Nós não podemos culpar os militares americanos, pois a maioria é de jovens despreparados que se alistaram nos últimos anos, vítimas de uma forte campanha publicitária em todos os canais no horário nobre da TV. Quem estava nos EUA durante o início do governo de Bush Jr., mesmo antes do “ataque” de 11 de Setembro de 2001, pôde ver uma enxurrada de propagandas do Exército (Army), Marinha (Navy) e Aeronáutica (Air Force) convocando jovens, não para a Guerra, mas, sim, para aprender coisas interessantes, se divertir à beça, ganhar muito dinheiro e poder fazer uma faculdade quando sair. Para um país que não estava em Guerra com ninguém, até que era um convite bem tentador, pois se tinha a certeza que não iria morrer em guerra alguma. Com isso, milhares de jovens que não tinham qualquer preparo, não podem mais desertar, com risco de serem presos, por isso, colocaram suas roupas camufladas pra selva e foram pro deserto.

O Iraque mal pôde revidar. As armas de destruição em massa usadas “legalmente” pelas forças invasoras, como Napalm e MOAB, cumbriram o papel de enfraquecer o regime (tanto do governo como o alimentar). E “ai” do Iraque se usasse um míssel que voasse mais do que devia e conseguisse acertar os americanos. Isto seria um crime de guerra. Guerra esta que foi totalmente inventada e que o mundo inteiro pediu pra não acontecer.

Mas deve existir alguma razão astrológica pra toda esta inversão de valores que tem acontecido no mundo, onde a força se sobrepõe ao direito. Ao mesmo tempo que a brutalidade se fez valer sobre a lei na invasão ao Iraque, aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, os bandidos têm desafiado a Polícia, com o uso de armamentos que nossos policiais não dispõem, como metralhadores, granadas etc. Dá mesmo pra traçar um paralelo com as duas situações. Os bandidos invadem o território alheio, provocam o medo, tentam decaptar o governo, ameaçam quem se mostre contra. A lei não vale nada. Dentro das favelas, que é o território dos bandidos, todos os moradores cumprem o voto do silêncio. Mas estão todos seguros, pois os ataques terroristas são só no asfalto. São só do lado de fora. Muito parecido com a situação de quem vive nos EUA. Só que lá se faz a propaganda que o resto do mundo é uma favela.

Agora só nos resta gritar: No War on Syria!





O jornalista Marcello Pepe (MTB 19259/MG) trabalhou por muitos anos para o jornalismo brasileiro nos Estados Unidos, onde pode editar, redigir e diagramar vários periódicos brasileiros. Lançou em 1997 o premiado PlanetaFax, sendo o primeiro informativo diário em português nos EUA. Atualmente, é gestor do Relaciono, professional coach, palestrante e professor de comunicação em público. Confira o novo blog de Marcello Pepe em www.marcellopepe.com

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