Nascer, morrer, renascer

Se pensarmos em quando estávamos dentro do ventre materno, envoltos e embebidos por um líquido que nos alimentava e nos bastava e um cordão umbilical que nos abastecia do oxigênio necessário para o desenvolvimento e manutenção de nossas funções vitais, podemos comparar este período de nove meses com algumas fases de nossas vidas.

Muitas verdades absolutas nos são enfiadas ‘goela abaixo’, formando nosso conjunto de realidades indiscutíveis. Paradigmas intransponíveis. O nosso meio, que é, ao mesmo tempo, nosso fator limitante, nos ensina que tentar algo novo, fugir do lugar comum, pode ser perigoso. Aliás, sempre foi assim, não há de ser diferente agora...

Precisamos aceitar que nossa vida, tal como é vivida, tem que chegar ao fim o quanto antes. Temos que compreender que, para se construir um prédio, temos que limpar o terreno. Temos que remover os conceitos antigos e pensarmos ‘fora da caixa’. Devemos buscar a morte, ah, sim!

Não uma última morte. Nada disso! Mas, sim, uma morte que se assemelha a uma metamorfose da alma. Para renascermos, precisamos nos desligar da vida que vivemos. Precisamos abdicar dos benefícios e das muletas morais nas quais vivemos nos apoiando.

Seria o mesmo que acontece com o bebê no ventre da mãe? Quando ele se sente preparado para deixar aquela vida confortável, morna, dependente, para assumir os riscos de atravessar o canal do futuro. De sair à força de um mundo ao outro, para, novamente, nascer. Nascer para uma nova vida em um novo ambiente.

Tal como fizemos quando bebês, quando decidirmos nascer, a coragem e a força nos serão dadas para conseguirmos tirar todo o líquido amniótico daquela vida anterior. Vomitar tudo que nos colocaram dentro por tanto tempo, mesmo que nos tenham sido úteis, mesmo que nos tenham alimentado, mesmo que nos tenham sustentado. Uma forte tosse, um vômito, lágrimas e soluços que se alternam e abrem caminho para que o ar invada nossos pulmões e abasteça nossa nova vida e traga uma nova esperança à nossa alma.

É doloroso. Machuca. Fere. Quanto maior a resistência pelo novo, maior a dor. Se não pode haver nova vida sem um nascimento e não pode haver nascimento sem uma morte, não poderá haver morte sem dor para aquele que associa sofrimento a ela.

Devemos, sim, buscar o aprendizado permanente, fruto de todas estas contínuas transformações.

Como não há ninguém sábio demais que não tenha algo a aprender, nem ignorante demais que não tenha nada a ensinar, em nossas muitas vidas, podemos ser os mestres e aprendizes da arte de viver. Eternos buscadores da perfeição.

Enquanto mestres, devemos saber a hora certa de conduzir o aprendiz pelas mãos, a hora de exigir, a hora de abandonar. O grande ensinamento pode estar em ouvir nossos seguidores e deixá-los ao comando da sua própria maestria.

Ensinar que precisamos morrer para podermos nascer novamente.
Ensinar que temos que fracassar para alcançarmos o sucesso.
Ensinar que, depois que tudo terminar, ainda assim, teremos muito tempo pela frente.

Muito tempo para nascer, morrer e renascer... várias vezes.





O jornalista Marcello Pepe (MTB 19259/MG) trabalhou por muitos anos para o jornalismo brasileiro nos Estados Unidos, onde pode editar, redigir e diagramar vários periódicos brasileiros. Lançou em 1997 o premiado PlanetaFax, sendo o primeiro informativo diário em português nos EUA. Atualmente, é gestor do Relaciono, professional coach, palestrante e professor de comunicação em público. Confira o novo blog de Marcello Pepe em www.marcellopepe.com

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