Fala coração!

Você já deve ter ouvido pela imprensa esportiva que o time só vai entrar em campo para cumprir tabela. Esse antigo jargão do meio futebolístico pode ser bem aproveitado na comunicação. Quem fala só por falar, sem demonstrar interesse e envolvimento pela mensagem que transmite, é como se fosse um time de futebol que não precisasse mais dos resultados, mas que por força de obrigação contratual devesse entrar em campo apenas para cumprir tabela. Não cometa o erro de falar só por falar, como se fosse obrigado a se desincumbir de uma tarefa pesada e livrar-se de um fardo que não gostaria nunca de estar carregando. Esteja certo de que se você falar como se estivesse apenas desobrigando-se de uma incumbência, por mais extraordinária que seja sua mensagem, não conseguirá envolver e tocar as pessoas.

Essa é uma das mais importantes regras da boa comunicação: ao transmitir uma mensagem, fale sempre com energia, disposição, entusiasmo, com emoção. Pois é simples deduzir que se você não demonstrar interesse e envolvimento pelo assunto, não poderá pretender que os ouvintes se interessem e se envolvam pelo tema que se dispôs a transmitir.

Um advogado americano chamado Gerry Spence, que em mais de 40 anos de carreira nunca perdeu uma única causa criminal, na sua obra Como argumentar e vencer sempre revela do alto de sua experiência, com a credibilidade de quem trilhou uma careira só de vitórias: “Concentradas em seus sentimentos, as pessoas que estão dizendo a verdade falam com o coração, que é incapaz de compor precisamente o raciocínio linear de um cérebro laborioso. E ao ouvir o que é expresso pelo coração o ouvinte também é levado a ouvir com o coração.”
Transmitir a mensagem com emoção pressupõe a coerência de todos os aspectos da comunicação. A emoção precisará estar presente em cada detalhe – na entonação da voz, na comunicação visual e do semblante, na força persuasiva da pausa, que conquista pelo silêncio a adesão do sentimento do ouvinte e o leva a refletir sobre a informação que acabou de ser comunicada.

Talvez um dos aspectos mais delicados e sutis do uso da emoção esteja no fato de que ao se valer dela você precisará parecer sempre verdadeiro. Reafirmo, precisará parecer, porque valerá pouco se disser que está triste ou alegre se os ouvintes não identificarem na sua comunicação o sentimento de tristeza ou de alegria. Por esse motivo, em algumas ocasiões, você deverá interpretar sua própria verdade, isto é, mais do que dizer o que sente, na maneira de comunicar esse sentimento precisará usar toda sua disposição, energia e vontade, para que suas palavras encontrem respaldo em seu comportamento. Lembre-se de que você não comunica a mensagem para você mesmo, mas sim para os ouvintes, e para que eles se envolvam com ela precisam identificar a emoção no sentido das palavras e na demonstração do sentimento de quem as utiliza.

Esse é um assunto tão fascinante que ao optar pelo tema da minha dissertação de mestrado decidi falar sobre a emoção. O título do trabalho, hoje publicado em livro pela Editora Saraiva é “A influência da emoção do orador no processo de conquista dos ouvintes”, e a conclusão da pesquisa desse estudo foi que a emoção do orador tem influência determinante no processo de conquista dos ouvintes.

Assim, não tenho nenhuma dúvida em afirmar que se desejar ser vitorioso com sua comunicação, mais do que se comportar sempre de maneira natural e espontânea, deverá falar também com emoção. Você terá na conjugação desses dois aspectos da comunicação, naturalidade e emoção, a solidez de uma base consistente para que possa atingir o maior e mais importante objetivo da comunicação – a credibilidade.





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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