As palavras agridem com voz de veludo

A pessoa que fala com você tem a voz meiga, suave, pausada, mas as palavras ferem como se fossem um punhal afiado. Como se defender de gente que se aproxima com a intenção de agredir, mas esconde suas garras de tal forma que nem a própria vítima consegue perceber?

Nas últimas semanas tenho me dedicado a tratar das agressões verbais camufladas. Falei inicialmente da agressão verbal camuflada não intencional, situação em que a pessoa, até querendo elogiar, sem querer acaba por agredir o interlocutor.

Em seguida abordei os aspectos mais relevantes da agressão verbal intencional indireta, onde a pessoa, com intenção de agredir, se esconde no discurso de um terceiro para passar a mensagem que deseja.

Em cada caso, dei sugestões de como poderíamos nos comportar. Sabendo que esta é uma questão que está presente na vida de muita gente, pedi que os leitores entrassem no meu site, que está no final do texto, e me contassem suas experiências. A resposta foi impressionante. Recebi e-mails até do exterior.

Hoje vou tratar de um tipo de agressão verbal camuflada mais sutil, mais difícil de ser identificado e que exige experiência e traquejo para ser contornado. Talvez você até tenha enfrentado situações como essa sem entender bem por que se sentiu tão desconfortável.

A pessoa fala com aquela vozinha meiga, doce e aveludada. Aos poucos, entretanto, vai destilando o veneno que demora a ser sentido. Sem que possamos perceber, já estamos contaminados e nos sentindo agredidos.

Às vezes a conversa que gerou a agressão é tão velada, tão disfarçada, que em determinadas circunstâncias só conseguimos nos dar conta de que a intenção da pessoa era nos agredir depois de muito tempo. Fazemos essa constatação quando já estamos sozinhos, procurando entender a causa daquele sentimento negativo.

O primeiro sintoma é o de um desconforto que vai se transformando em sentimentos que nos deixam atormentados, como a idéia de inferioridade, fracasso, incapacidade e insegurança.

A pior reação ao perceber que estamos sendo agredidos seria a de revidarmos ao ataque de maneira veemente, pois perderíamos o papel de vítimas e passaríamos a ser os agressores. A pessoa que agride com fala mansa e voz suave, de forma geral não altera seu comportamento e se delicia ao verificar que conseguiu irritar e tirar o equilíbrio do outro.

Você poderia questionar: Polito, mas não seria mais simples mostrar à pessoa que percebemos a sua intenção de nos agredir e sugerir que ela fosse procurar a turma dela ou plantar batatas? Ficar constrangido em posição defensiva não é a identificação de uma personalidade frágil e vulnerável?

Teoricamente, sim. Mas nem sempre é tão simples desmascarar o agressor. Lembre-se de que a pessoa se comporta como se a conversa fosse a mais amigável e natural possível. Ela não terá nenhuma dificuldade para dizer que você está enganado. E não há forma de você dizer o contrário.

A melhor saída para situações delicadas como essa é fingir não ter percebido a agressão e conversar normalmente, como se nada estranho estivesse ocorrendo. Ao notar que não está conseguindo seu intento, a pessoa poderá ficar desmotivada a continuar.

Por exemplo, quando um casal briga, os filhos e as outras pessoas da família tendem a apoiar o cônjuge que se comportou de maneira mais suave e equilibrada e a condenar aquele que gritou e agiu com atitude destemperada.

Ocorre que aquele que falou mais alto e esbravejou talvez estivesse apenas revidando aos ataques que recebeu a partir de agressões que foram feitas com sutileza, de maneira suave e aparentemente gentil.

Observe que em algumas brigas de casais é o que acontece: a vítima dos ataques acaba se transformando em agressora. Por causa dessa atitude, perde a razão e a solidariedade dos outros.

Também nesse caso vou passar a mesma sugestão que tenho dado para enfrentar as pessoas que atacam com agressões verbais camufladas - mantenha distância. Elas não têm escrúpulos e fazem tudo o que podem para prejudicá-lo.

Se você for obrigado a se relacionar com pessoas que agem dessa forma, por fazerem parte da sua família ou conviverem no ambiente de trabalho, procure conversar com elas em situações normais, quando não estejam tentando agredi-lo. Provavelmente elas dirão que você está enganado, mas saberão que o truque foi descoberto. Talvez funcione.

Não perca a oportunidade de esclarecer essas situações delicadas, especialmente quando estiverem prejudicando seu relacionamento com as pessoas com as quais precisa conviver. Se desejar saber como deverá se comportar nessas circunstâncias reveja o texto 'Aprenda a dizer não'.

SUPERDICAS DA SEMANA

* Procure não revidar com violência quando sentir uma agressão velada
* Faça de conta de que não entendeu que a pessoa desejava agredi-lo
* Tente se afastar das pessoas que agridem com palavras suaves
* Esclareça as agressões verbais só quando puder conversar tranquilamente





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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