Surpresa! Os livros estão falando

US$ 923 milhões em vendas em 2007! Quase um bilhão de dólares! É muita grana, não? E sabe quem faturou essa bufunfa toda? O mercado de audiolivros nos Estados Unidos. Pois é, os livros estão falando.

Segundo pesquisa divulgada pela Audio Publishers Association, as vendas de audiolivros no mercado americano cresceram 6% de 2005 a 2007. E tendem a crescer ainda mais.

Em terras tupiniquins, a história começa a esquentar agora. O começo foi titubeante. As primeiras tentativas de produzir audiolivros no Brasil foram de razoáveis para baixo.

Para começar, a dificuldade técnica. Para gravar todo o conteúdo de um livro com mais de 300 páginas eram necessários cerca de 20 CDs. Era muita mão-de-obra levar esse pacote todo para cima e para baixo.

Já pensou você tendo de trocar 20 CDs na seqüência correta? Pior, desembolsar uma nota para adquirir um único livro gravado? Essas duas dezenas não custavam menos de R$ 80,00. Muito caro, trabalhoso e desestimulante.

Com a entrada do MP3 no mercado de áudio, tudo se transformou. Hoje é possível pôr todo o conteúdo de um livro em um único CD. O aspecto negativo é que nem todo mundo tem aparelho MP3.

Também dá para contornar rodando o CD num computador ou no CD/DVD player. É questão de pouco tempo, pois a cada dia mais carros saem de fábrica com esse acessório instalado.

Segundo Robson Fragetti, gerente comercial da empresa Audiolivros, a pioneira e maior empresa do segmento no Brasil, de quase 40 títulos que eles têm disponíveis no mercado, apenas quatro são em CDs comuns; os outros todos são em MP3.

Eles contam com um banco de profissionais da voz para interpretar os mais variados tipos de textos. De acordo com Fragetti, um livro pode ter mais de 50 personagens e um locutor interpreta no máximo meia dúzia de vozes.

Entretanto, fora as interpretações, um único locutor grava um livro de ponta a ponta. Uma obra entre 250 a 300 páginas requer uma semana de gravação, com dedicação de seis a oito horas por dia.

Ainda há muito por fazer. Boa parte dos leitores não aceita trocar o livro de papel pelo livro em áudio. Eu mesmo não posso atirar a primeira pedra, pois fiz coro com essa turma e também torci o nariz quando me deparei com o produto à venda.

Afinal, para quem sempre gostou de ler, a idéia de botar um fone de ouvido e trocar o sentido da visão pelo da audição para entrar em contato com a mensagem do autor parecia atitude de 'gente vagabunda', que não gostava de ler.

Com o passar do tempo, muita coisa mudou. Os habitantes das cidades grandes tiveram o tempo de lazer reduzido e começaram a enfrentar trânsito cada vez mais congestionado.

A falta de tempo para ler e boa parte da vida consumida dentro dos carros para ir e voltar ao local de trabalho abriu espaço para o uso de engenhocas eletrônicas como Ipod, MP3 e MP4. Esses aparelhinhos, que foram lançados com preços elevados, baratearam e passaram a ser nossos companheiros.

E com eles reapareceu a idéia do audiolivro. Só para ver como anda esse mercado, dei uma passeada pelo site da Saraiva e me deparei ali com cerca de 80 títulos. A Fnac já está com mais de 20 títulos.

Não é muito se considerarmos que são lançados mais ou menos 1.200 títulos novos de livros em papel todos os meses, mas é um crescimento extraordinário se compararmos com a quantidade desse mesmo produto há menos de dois anos.

Recentemente, ouvi 'O monge e o executivo' e um dos volumes de 'Pensamento Vivo' do Rubem Alves. O best seller de James Hanter foi muito bem produzido, com canto gregoriano ao fundo e o farfalhar da folhas, mostrando a calma do local onde o monge dava suas lições ao executivo.

Rubem Alves gravou, ele mesmo, sua obra em áudio, sem produção sofisticada. Gostei dos dois. Realmente parece que começaram a acertar o rumo do produto.

Para a comunicação verbal o audiolivro é um apoio extraordinário. Sem conteúdo não há que falar. E sem leitura fica difícil ter conteúdo. Com o audiolivro as pessoas terão mais uma boa opção para obter informações e enriquecer a mensagem.

A Editora Saraiva resolveu entrar no mercado de audiolivro. O primeiro produzido foi o livro de minha autoria 'Superdicas para falar bem', que eu mesmo gravei. Deu certo.

Já é o audiolivro mais vendido no Brasil. Está em primeiro lugar nas duas principais redes de livrarias que comercializam audiolivros: Saraiva e FNAC.

Devido à possibilidade de interpretação, em determinados trechos, o áudio é muito superior ao livro impresso, pois consegue dar ao ouvinte a dimensão exata das técnicas sugeridas.

Fui contratado para coordenar os audiolivros da Editora, inicialmente com os livros da série superdicas, que também está sob minha coordenação. Todos serão gravados pelos próprios autores.

Se você ainda não ouviu um audiolivro, sugiro que experimente. Tenho quase certeza de que terá muito prazer em ouvir o conteúdo de um livro de sua preferência.

Quando for a uma livraria, escolha um bom título. Ou, se preferir, pesquise pela internet. Se ouvir o meu, depois me conte o que achou.


SUPERDICAS DA SEMANA

* Escolha um audiolivro gravado de um bom livro
* Selecione um título que esteja em seus planos de leitura
* Procure ouvir em local onde possa se concentrar
* Aproveite o tempo dentro do automóvel para pôr as 'leituras' em dia





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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