Aprenda a falar no elevador

Manter contato com gente importante é difícil. Essas pessoas são muito ocupadas e vivem cercadas de secretárias e assistentes que atuam como verdadeiros cães de guarda. O mais complicado da história é que se você tiver algum negócio de peso para resolver só elas é que poderão decidir.

Por isso, um contato inesperado fora do quartel-general onde os manda-chuvas costumam se alojar pode significar a solução de meses de tentativas malsucedidas.

Só que tudo fica simples no papel, pois é fácil dizer: vai lá e fala com a fera. Entretanto, quando chega a hora de colocar o sino no gato é preciso ter peito. Diria mais, peito e técnica.

Só como exemplo, imagine que esteja no avião onde também viaja aquela importante pessoa que poderia influenciar na aprovação de um grande projeto que exigiu muita dedicação da sua equipe.

O contato tem de ser muito rápido, logo após o embarque, ou no momento do desembarque, quando passamos pela poltrona em que ela está sentada. Nenhuma palavra poderá ser desperdiçada, pois o tiro precisa ser na mosca.

É a realidade. Quem toma decisões importantes quase sempre é muito ocupado e não tem tempo para ouvir demoradamente uma proposta, por mais relevante que ela seja.

E sabe onde essa comunicação rápida, objetiva, direta, encantadora pode ser treinada e aperfeiçoada? Entre as diversas opções disponíveis, uma das mais práticas, eficientes, e por que não dizer, estranhas, é no elevador.

Nem todo mundo gosta de falar no elevador. Alguns até se esquivam dessas situações. Inicialmente protegem seu espaço, mantendo a maior distância dos outros passageiros.

Começam a se instalar nos cantos e só usam o espaço central quando todos já foram ocupados. Olham no rosto das demais pessoas só no momento de cumprimentar e depois desviam os olhos para outros lugares daquele restrito espaço.

Talvez por causa do constrangimento quase generalizado que se observa nos elevadores é que alguns estudiosos da etiqueta comportamental aconselham categoricamente que não se deve falar neste local.

Entretanto, para o nosso objetivo, que é desenvolver técnicas para comunicar mensagens completas e importantes em alguns segundos, vamos rasgar as cartilhas da etiqueta e fazer do elevador nosso campo de treinamento.

Se você conseguir iniciar, desenvolver e concluir uma conversa agradável, simpática e cativante, dentro do elevador -no percurso entre quatro ou cinco andares-, estará apto a falar com quem quer que seja dentro de aviões, saguões de aeroportos, restaurantes, filas de teatros e, assim, atingir seus objetivos.

Para começar cumprimente. Embora alguns cumprimentem os outros passageiros assim que entram no elevador, a verdade é que nem todos têm essa atitude educada e cordial e, aqueles que cumprimentam, de forma geral o fazem com reservas e sem simpatia.

Não estou sugerindo que alguém banque o palhaço e fique tagarelando como um bobo da corte. Esse comportamento é inconveniente e pode ser encarado como uma atitude desrespeitosa. As pessoas podem sentir que estão tendo sua privacidade invadida.

Começar é o mais complicado. Depois do cumprimento, você precisa iniciar rapidamente a conversa, até porque o tempo é curto e qualquer hesitação poderá fazer com que as pessoas se desviem e levantem barreiras para sua aproximação.

Os comentários casuais são os mais eficientes porque dão a impressão de que é a seqüência natural de uma conversa. Assim, se perceber uma sacola de compras na mão do outro passageiro, evite perguntar se ele foi ao supermercado. Tome o fato como consumado.

Comente, por exemplo, como você tem se surpreendido com o aumento de preços de alguns produtos ou como a qualidade de alguns itens vendidos pelos supermercados tem melhorado. Fazer comentários sobre objetos que a pessoa está carregando é a primeira dica para iniciar a conversa.

Quando as pessoas estão saindo ou chegando, é comum carregarem algum tipo de objeto, como sacolas de supermercados, livros, revistas, aparelhos e muitos outros ligados ao dia-a-dia. Ao comentar sobre esses objetos indicará que possuem informações comuns.

Se, depois do seu comentário, a pessoa não der continuidade à conversa, aí sim faça uma pergunta relacionada ao tema para estimulá-la a falar. Por exemplo, se você disse que já tinha lido alguns livros do Cesar Romão, mas que ainda não teve a oportunidade de ler aquele particularmente que ela está levando, e mesmo assim a pessoa continuar calada, você poderia perguntar, por exemplo, se ela já havia começado a ler e se estava gostando da história.

Use as crianças. As crianças se constituem em excelentes motivos para você iniciar uma conversa no elevador. Se estiverem cansadas ou com sono, poderá comentar como é difícil para elas agüentarem o corre-corre do dia-a-dia.

Se estiverem serelepes, será possível falar da sua energia e disposição. Se estiverem vestidas para a festa, diga como ficam bonitas com esse tipo de roupa.

Evite fazer o comentário ou dirigir a pergunta para a própria criança, pois geralmente são arredias e, no lugar da resposta, coçam a cabeça e resmungam irritadas. Fale sobre elas com os pais ou com quem as estiver acompanhando.

Atenção: se os pais estiverem repreendendo os filhos, ou se estes estiverem chorando por qualquer motivo, é melhor apenas sorrir, demonstrando simpatia e compreensão, e ficar quieto. Outras vítimas virão.

É hora da bóia. Horário de refeição pode proporcionar bons comentários. Seria possível dizer, por exemplo, que depois de um intenso dia de trabalho, com o frio que está fazendo, nada como uma sopinha com pão para recuperar o ânimo, ou, se estiver muito calor, nada como uma boa salada para não empanturrar e dar uma refrescada.

Dependendo do tipo físico da pessoa, se você perceber que ela possui uma barriguinha proeminente e as bochechas rosadas, deve ser chegado numa loirinha gelada e, neste caso, poderá falar também da cervejinha.

Falando em comida, se notar que a pessoa fez regime para emagrecer, não perca a oportunidade de comentar sobre o assunto. Com a vantagem de que, se ela ficar empolgada com a explicação do número de calorias, em mais três ou quatro andares você estará livre.

No final de semana não falha - sempre tem alguém chegando com uma caixa de pizza e prontinho para devorá-la. Falar desse troféu domingueiro é uma das melhores maneiras de tocar no assunto de seu interesse.

Tenha cautela com as flores. Quando alguém entra no elevador carregando um ramalhete de flores, de maneira geral fica pouco à vontade com essa demonstração de romantismo.

Lógico que é besteira, mas é comum que se sintam constrangidos. Por isso, fale do seu gosto pelas rosas, cravos, orquídeas. Diga que não tem encontrado flores tão bonitas e não pergunte se é dia de festa ou se tudo isso é amor ou paixão.

Existe esse constrangimento natural das pessoas quando estão no elevador, mas há também aquelas situações em que a contrariedade ocorreria em qualquer circunstância. Fique atento para perceber essas reações e não fazer comentários ou perguntas inconseqüentes.

Afora esses casos especiais, não vacile, vá em frente, aprenda a conversar no elevador e a esgotar assuntos em pouco tempo. Essa habilidade bem treinada ajudará muito quando precisar falar rapidamente em qualquer circunstância e o projetará como uma pessoa simpática e comunicativa.

Tomara que na próxima oportunidade já consiga fechar um bom negócio. Se essa proeza ocorrer, escreva contando para mim no endereço que está no final do texto.

SUPERDICAS DA SEMANA

* Quando entrar no elevador, cumprimente as pessoas
* Comente sobre os objetos que elas estejam levando
* Comente sobre o comportamento das crianças acompanhadas dos adultos
* Comente sobre as flores, sem perguntar quem será presenteado
* Se o clima estiver pesado, prefira ficar quieto





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

O conteúdo veiculado nas colunas é de responsabilidade de seus autores.