Pare de matar caminhoneiros

Estatísticas apontam um número crescente de caminhoneiros que são vítimas de roubo de carga nas estradas. Além das valiosas cargas, estes motoristas muitas vezes perdem a própria vida. São pais de família que escolheram o ofício das estradas, trabalhando honestamente, e que, de uma hora para outra, são encontrados jogados como lixo na beira de pistas mal policiadas. Uma ou duas balas cravadas no crânio ou o pescoço rasgado por uma faca. E famílias inteiras que se sentem sem norte ao perder abruptamente alguém que estava simplesmente lutando pelo seu sustento.

Vamos entender como isso funciona.

Os ladrões de cargas que operam pelas estradas do Brasil não roubam cargas por que gostam. Eles fazem isso por que há encomendas que são feitas por comerciantes ilegais ou até mesmo, pela própria transportadora que revenderá a mercadoria e ainda vai receber o dinheiro do seguro. Esta mercadoria que foi roubada passa a fazer parte de um mercado negro, onde os produtos precisam ser vendidos sem Nota Fiscal para distribuidores e revendedores que, por sua vez, também terão que vender sem Nota, pois não terão como dar entrada “oficial” na mercadoria.

Em geral, são camelôs espalhados pelo país todo que comercializam mercadorias contrabandeadas e roubadas e lojas de um mercado informal onde o consumidor não tem a cultura de pedir Nota Fiscal. Este é o cenário ideal para se propagar toda esta doença social.

Além do mercado informal, lojistas presumidamente sérios também são vítimas de distribuidores de mercadorias que oferecem preços muito baixos de produtos que estão sendo vendidos “por fora”. Quando o empresário aceita este tipo de oferta e compra a mercadoria para revendê-la a seus clientes, ele está sendo receptador de mercadoria roubada, passível, até mesmo, de ser preso por isso.

O consumidor, no final da linha, quando não exige a Nota Fiscal, também está participando de todo este processo clandestino e criminoso. É papel de cidadão exigir que os comerciantes emitam cupons ou notas fiscais. É papel de cidadão comprar apenas produtos na certeza que não são frutos de atividades ilegais, não deixando espaço para que cargas roubadas daquele caminhoneiro que apareceu morto na estrada, possam seguir o seu curso e movimentar todo este mercado negro.

Não parece muito difícil perceber que a solução é muito simples e está ao nosso alcance. Basta que todos nós, enquanto consumidores, exijamos a Nota Fiscal e que nós, quando comerciantes, não aceitemos ofertas de mercadorias suspeitas e que, na medida do possível, denunciemos estas empresas que estão promovendo a manutenção da criminalidade no país.

Vamos parar de só exigir mais policiamento, pedir mais segurança e vamos começar a fazer a nossa parte.





O jornalista Marcello Pepe (MTB 19259/MG) trabalhou por muitos anos para o jornalismo brasileiro nos Estados Unidos, onde pode editar, redigir e diagramar vários periódicos brasileiros. Lançou em 1997 o premiado PlanetaFax, sendo o primeiro informativo diário em português nos EUA. Atualmente, é gestor do Relaciono, professional coach, palestrante e professor de comunicação em público. Confira o novo blog de Marcello Pepe em www.marcellopepe.com

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