Ao nosso alcance

O sucesso, e o seu oposto (o fracasso), não passam, ambos, de miragens. São meras ilusões de ótica. Ninguém é tão bem-sucedido quanto às vezes pensa (ou somente deseja) e nem completamente fracassado, como via de regra se sente após algum grande tropeço na carreira, no amor e nos relacionamentos. Enquanto estivermos vivos, todas as possibilidades permanecem abertas para nós. Tanto poderemos nos decepcionar com o que julgávamos, não raro afoitamente, como espetacular êxito, quanto nos surpreender com uma inesperada virada, com uma dramática recuperação, quando já julgávamos tudo perdido.

É essa imprevisibilidade da vida que me fascina e me encanta, embora, muitas vezes, me aterrorize. Por isso, devemos estar sempre atentos. Nunca podemos baixar a guarda. Temos que permanecer, o tempo todo, prevenidos, para o bem, ou para o mal. Conheci pessoas que estavam na crista da onda, requisitadas e louvadas por seus feitos e virtudes, tidas e havidas como exemplares e vitoriosas e que, de repente... zás! Rolaram ladeira abaixo e, em três tempos, foram execradas e depois esquecidas. Fracassaram e não souberam “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”

Se quisermos ser bem-sucedidos em qualquer empreitada temos, antes de tudo, conhecer nosso potencial. E, sobretudo, ter noção, nem que mínima, das nossas aptidões. Em contrapartida, é questão de bom-senso estarmos cientes das nossas fraquezas e vulnerabilidades, para não sermos surpreendidos por elas. Ademais, nunca se pode perder de vista o fato de que sozinhos não chegaremos a lugar algum. Daí termos necessidade de estabelecer sólida e sábia rede de relacionamentos, criar vínculos com as pessoas certas, que poderão, com sua ajuda, facilitar, quando não possibilitar que alcancemos nossos propósitos.

O filósofo norte-americano, Ralph Waldo Emerson, no livro “Considerations by the Way”, constata: “A vida traz a cada um a sua tarefa e, seja qual for a ocupação escolhida, álgebra, pintura, arquitetura, poesia, comércio, política – todas estão ao nosso alcance, até mesmo na realização de miraculosos triunfos, tudo na dependência da seleção daquilo para que temos aptidão: comece pelo começo, prossiga na ordem certa, passo a passo”.
Está aí o primeiro e indispensável degrau a subir: detectar e investir naquilo para o que estejamos habilitados, mesmo que apenas potencialmente. Ou seja, se tivermos facilidade em lidar com números, por exemplo, a meta a ser atingida tem que se basear em cálculos (engenharia, comércio, economia, física etc.). Se formos aptos em reproduzir imagens (ou, quando for o caso, criá-las), o caminho que se desenha à nossa frente é o das artes plásticas. Se tivermos facilidade de escrever, poderemos ser bons escritores, jornalistas competentes ou mestres do idioma, entre outras atividades. E assim por diante.

O fundamental, porém, é que escolhamos objetivos factíveis e que, sobretudo, estejam ao nosso alcance. Não posso, por exemplo, pretender ser um atleta de alto rendimento se tiver dificuldades, até, para simplesmente caminhar. Seria estupidez querer ser campeão olímpico de natação se nem ao menos souber nadar. Óbvio que, por mais esforçados e determinados que formos, não chegaremos jamais a essas metas se não tivermos aptidão física para elas. Trata-se de impedimento orgânico, constitucional, muscular e, portanto, insuperável. Essas tarefas, se forem as que nos auto-impusermos, nos serão absolutamente interditas. Não estarão, jamais, ao nosso alcance.

Muitos não atentam para isso e passam a vida toda remoendo frustrações, face ao inevitável e previsível fracasso. O melhor que poderiam fazer, no entanto, seria estabelecer objetivos que lhes fossem factíveis. Ou seja, os que, sem grande esforço, estivessem ao seu alcance, por serem compatíveis com suas aptidões.

O mero acerto na escolha do que se quer e se sabe fazer bem, todavia, não é garantia absoluta de sucesso, embora se constitua num primeiro passo para ele. Há uma série de condições a cumprir, para que se tenha pelo menos parca chance de êxito. Entre estas destacam-se: o preparo, a autodisciplina, a determinação, a vontade, o método, o treinamento, a persistência etc.etc.etc. E, mesmo que todas essas etapas sejam cumpridas com o máximo rigor, ainda assim estaremos na dependência das circunstâncias, que podem arruinar por completo uma empreitada que, aparentemente, tinha tudo para ser bem-sucedida.

Emerson observa: “É tão fácil retorcer âncoras de ferro e talhar canhões como entrelaçar palha, tão fácil ferver granito como ferver água, se você fizer tudo na ordem correta. Onde quer que houve insucesso é porque houve titubeio, houve alguma superstição sobre a sorte, algum passo omitido, que a natureza jamais perdoa”.

Nosso consolo é que, enquanto houver vida, sempre haverá esperança. O fracasso de hoje pode, miraculosamente, se transformar no sucesso de amanhã. Mas tenha em mente que o “vice-versa” também tem possibilidade de acontecer. Por isso, nunca devemos nos empolgar demais com os êxitos e nem considerar tudo perdido com os insucessos. Por mais que me assuste e aterrorize, reitero, me fascina e me encanta essa imprevisibilidade da vida, pois lhe dá sabor de permanente e arriscada aventura.





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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