Nuvem rabo de galo

Ando meio na contramão das críticas que fazem à linguagem dos jovens. Há pouco tempo fiquei surpreso ao assistir a uma palestra do meu amigo Waldez Ludwig, um dos melhores palestrantes do país, e constatar que ele pensa da mesma maneira que eu. De forma geral, entretanto, as pessoas não gostam de como os jovens se expressam para falar e escrever.

Por estranha que possa parecer, a maneira como os jovens se comunicam, seja na linguagem oral ou escrita, no final é a que irá prevalecer. Em vez de criticar, os educadores deveriam aproveitar essa comunicação solta e quase irreverente para estimular o jovem ao aprendizado. Como já fazem os professores mais criativos e competentes.

Ficar preso à linguagem do passado é perda de tempo. Basta observar como os nossos avôs se comunicavam, e eram criticados pelos nossos bisavôs. Como nossos pais falavam, e eram criticados pelos nossos avôs. Como nós falamos, e fomos criticados pelos nossos pais. Como nossos filhos se expressam, e são criticados por nós. E sempre vingou a linguagem das gerações mais recentes, não das mais antigas.

O desenvolvimento tecnológico, os costumes, as tendências viram a sociedade de cabeça para baixo. Enquanto as gerações passadas são migrantes no mundo tecnológico, a atual já vem pronta de fábrica com os chips na cabeça. São formas distintas de se relacionar, de interagir, de se expressar. Tanto para falar quanto para escrever.

Os jovens hoje se comunicam muito mais que os da minha geração. Que tipo de experiência eu e meus contemporâneos tínhamos para escrever? Quase nenhuma. Era uma redação para as aulas de português aqui, uma cartinha para a namorada ou o namorado ali. E só. A não ser que a profissão exigisse habilidades para redigir textos, o que não era comum. Pouca gente escrevia.

Hoje não. Os jovens se contatam e se relacionam o tempo todo. Marcam encontros, contam as novidades, participam de blogs, de portais de relacionamento, estão sempre se comunicando. Lembro-me de que a primeira redação que fazíamos após as férias era 'Como foram minhas férias'. Hoje os jovens contam para os amigos o que estão fazendo nas férias o tempo todo. É quase uma redação por dia.

Se a linguagem é estranha e na base das abreviações, o treino para concatenar as ideias e organizar o raciocínio é permanente. Se alguém não conseguir expressar o que está pensando, vendo ou sentindo os colegas não vão entender a mensagem. Portanto, eles se entendem mesmo usando o 'internetês': vc para você, tb para também, tc para teclar.

Embora a comunicação oral não seja tão simplificada, também aí os jovens se valem de certos grunhidos para se entender. Com o passar do tempo eliminam o exagero e adotam uma linguagem que identifica e corporifica o pensamento em todas as circunstâncias.

Se o conhecimento do jovem para assuntos ligados à tecnologia e às novidades é superior ao de qualquer outra geração, há, entretanto, uma sabedoria cultivada pela experiência dos mais velhos que se torna quase imbatível. Reflita, você pediria conselho sobre questões sérias, que pudessem comprometer o relacionamento familiar, ou determinar os rumos da vida, por exemplo, ao seu filho ou ao seu pai ou ao seu avô?

Meu avô legou ensinamentos a minha mãe Lúcia que, às vezes, me deixam perplexo. Ele sabia exatamente quando deveria preparar a semente para o plantio só de olhar para as nuvens: 'o céu está com nuvens de rabo de galo, amanhã cedo vai chover'. Pimba, no dia seguinte a chuva estava lá molhando a terra, como ele havia previsto.

Minha mãe aprendeu e acerta todas. Basta olhar para o céu e encontrar uma nuvem rabo de galo. Tenho acompanhado suas previsões e me espanto com a quantidade de acertos. Nesta semana tirei uma foto de uma perfeita nuvem tipo rabo de galo e está aí para você conhecer. Nesse dia caiu um toró.

Eu também andei metido a meteorologista. Sempre que um papagaio do vizinho desandava a falar chovia. Contei para os amigos: 'acerto todas. É só o papagaio falar de manhã que chove'. Uma semana depois caiu uma tromba d'água. Como eu não havia falado nada, um deles perguntou: 'ué, o papagaio morreu?'.

SUPERDICAS DA SEMANA

● Antes de criticar procure compreender a linguagem dos jovens.
● Os jovens se sentem estimulados quando percebem que a linguagem deles é considerada.
● Para questões sérias e relevantes nada como a sabedoria das gerações passadas.
● O Ideal é mesclar sempre a novidade do jovem com a experiência dos mais velhos.


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Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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