Avanço com direção

Os fracassos, caso não sejam definitivos – ou que não os consideremos como tal – embora nos causem decepção, mágoas, desespero e aflição, tendem a ser didáticos. Podemos (e devemos) extrair lições deles, para num próximo empreendimento que tentarmos, obtenhamos o êxito desejado.

A maioria tende a desanimar quando fracassa no que quer que seja. Desperdiça, pois, preciosa oportunidade para aprender lições que a vida sempre tem a nos ensinar. Fracassos teremos sempre, de todos os tamanhos e naturezas e por diversas razões. Manda a sabedoria, porém, que em vez de os ficarmos lamentando e nos considerando inábeis e incompetentes, tentemos entender suas causas e desenvolver “antídotos” eficazes para elas.

Muitas vezes fracassamos em determinado empreendimento, em que tínhamos tudo para sermos bem-sucedidos, apenas por um simples detalhe: falta de objetividade. Não nos falta preparo para a empreitada. Partimos munidos de vigor e entusiasmo para a batalha. Somos auto-disciplinados e, sobretudo, determinados. Não desistimos diante dos primeiros obstáculos, mas persistimos na persistência. Temos, portanto, todos os ingredientes para o sucesso. E, no entanto...

Após sucessivas tentativas, infelizmente, depois de malharmos muito, inutilmente, em ferro frio, em certo momento... jogamos a toalha. Damo-nos, constrangidos e cabisbaixos, por vencidos. Não faltou vontade. Preparo físico e/ou intelectual (dependendo da natureza da empreitada) sobejou. Esbanjamos vitalidade e coragem. No entanto, fracassamos. Por que?

Não raro porque não determinamos com exatidão o objetivo que queríamos alcançar. Estabelecemos vários alvos diferentes que, somados, eram muito superiores às nossas forças. Fomos, pois, dispersivos, e assim, não há mesmo quem consiga ser bem-sucedido. Reitero: nesses casos o que faltou foi objetividade. O inteligente, em suma, é superar um obstáculo por vez, com método e direção.

Quase sempre, porém, queremos agarrar o mundo todo de uma só vez. Em vez de força, este é, na verdade, sintoma de fraqueza. Empenho sem objetividade, via de regra, transforma-se em mero desperdício de talento e de energia. Se tivermos um objetivo factível a alcançar, dificilmente deixaremos de avançar, com confiança e ousadia, sejam quais forem as circunstâncias. E a vitória, nesse caso, será mera conseqüência lógica. Dificilmente nos escapará por entre os dedos.

Um bom exemplo é o que ocorre no futebol americano. Nesse esporte, o que se requer é a conquista de território, até que se consiga chegar à linha de fundo do lado do campo em que o adversário estiver. À defesa do oponente compete impedir que o seu time conquiste as jardas necessárias para marcar esses seis pontos que são obtidos com a chegada à linha demarcatória fatal (denominada de “red zone”).

Sua equipe tem três chances para avançar dez jardas de cada vez. Se conseguir, terá mais três, e mais três, e mais três, até que conquiste a meta. Se não conseguir, a vez será do adversário de tentar o mesmo objetivo. Caso seu time cometa alguma falta, irá recuar várias jardas, dependendo da gravidade da infração. Vence o jogo quem for mais objetivo.

Na vida também é assim. Claro que ingredientes básicos, como competência, preparo, talento, determinação, disciplina etc. têm que estar presentes sempre. Isso sequer se discute. É o que os juristas (e os matemáticos também) designariam de “condição sine qua non”. Todavia, mesmo contando com todos esses fatores a seu favor, dificilmente você sequer se aproximará da vitória, seja no que for, se não tiver objetividade.

Parece óbvio, não é verdade? Mas, na prática, dificilmente levamos em conta esse fator essencial. E mais, raramente extraímos uma única lição que seja dos nossos fracassos. Estes nos marcam e nos sentimos, pelo menos por um bom tempo (alguns se sentem para sempre), incompetentes, fracos e perdedores.

É do filósofo norte-americano, Will Durant, esta constatação, em seu livro “A Filosofia da Vida”, a esse propósito: “Se desejamos ser fortes, devemos, antes de mais nada, escolher o nosso objetivo; em seguida, avançar, aconteça o que acontecer”. Objetividade, portanto, é sabedoria, é prudência e é, sobretudo, senso de direção. É, em última análise, força.





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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