Comunicação não melhora com a hierarquia

Reinaldo Polito

Polito, por que uma pessoa tão importante na vida corporativa procura você para fazer um curso de expressão verbal? Afinal, ela é vice-presidente de uma empresa multinacional, e quem ocupa posição tão relevante com certeza tem facilidade para se expressar em público.

Perdi a conta do número de vezes que ouvi comentários semelhantes a esse. Algumas pessoas deduzem que quando alguém ocupa posições hierárquicas mais elevadas naturalmente passa a ter comunicação de melhor qualidade.

É evidente que no exercício das diversas funções, participando de reuniões, negociando propostas, apresentando projetos, é possível adquirir experiência e certo traquejo para falar em público. Entretanto, nem sempre é assim, pois há casos, a maioria deles, em que o desenvolvimento da comunicação fica muito aquém do progresso profissional. E o mais grave é que quanto mais elevada for a posição hierárquica, mais a comunicação clara e eficiente será exigida.

Imagine, por exemplo, o principal executivo de uma importante organização concedendo entrevista para emissoras de rádio ou TV e falando de maneira hesitante e insegura. Talvez fosse visto como inadequado para a função e poderia até prejudicar a imagem da organização que dirige.

Sem contar que alguns dirigentes deixam de falar em público ou de dar entrevistas por não se sentirem confortáveis com sua comunicação e, por isso, perdem excelentes oportunidades para apresentar idéias, planos, propostas. Não é preciso pensar muito para concluir que tipo de prejuízo essa fuga pode resultar.

Quase todos os meus alunos que ocupam posições no alto da pirâmide corporativa dizem que a dificuldade que sentem para falar em público não combina com a importância do seu cargo. Por isso, querem afastar o problema aprimorando a habilidade para fazer apresentações nas mais diferentes circunstâncias.

Se um executivo se recusa a fazer apresentações porque julga não ser conveniente, tudo bem, ninguém é obrigado a falar se não tiver vontade. Trata-se de uma decisão pessoal que precisa ser respeitada. Todavia, deixar de usar a palavra em público por não saber como se expressar de forma correta pode comprometer a carreira de quem deu duro a vida inteira para chegar ao topo. E, por outro lado, tão grave quanto fugir das oportunidades para falar em público é se apresentar mal, demonstrando nervosismo, despreparo e falta de domínio da comunicação.

Como o crescimento profissional não determina o desenvolvimento da comunicação, se você já subiu os degraus da hierarquia não perca mais tempo e comece agora a aperfeiçoar suas apresentações em público. Se você estiver dando os primeiros passos na carreira, não espere para pensar na arte de falar bem apenas quando suas funções exigirem essa competência como requisito essencial para seu sucesso.

Revista Vencer - Edição 104

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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