A fala certa do chefe para o subordinado

Cuidado com o jeito como você fala com o chefe. Esse tipo de conselho é comum. Há pouco tempo fiz algumas sugestões de como o subordinado deveria fazer apresentações com apoio de visuais para o chefe. Chamei a atenção para a importância da objetividade e de ir diretamente ao ponto, sem enrolação.

Hoje vou mudar as posições do orador e do ouvinte. Quero discutir como o chefe deve agir para falar com o subordinado. Embora os aspectos estéticos relacionados à voz, ao vocabulário e à expressão corporal sejam os mesmos, a forma de transmitir a mensagem tem características diversas e peculiares.

O respeito deve ser o mesmo em todas as circunstâncias. Assim como o subordinado não deve contrariar gratuitamente a opinião do chefe em público, da mesma forma o chefe precisa tomar cuidado para não repreender o subordinado na frente dos outros funcionários.

No primeiro caso porque o chefe poderia se sentir diminuído e comprometer sua autoridade diante do grupo. No segundo porque o subordinado poderia se sentir humilhado e constrangido diante dos colegas. Contrariar a opinião do chefe ou chamar a atenção do subordinado são situações que exigem conversas particulares.

Além desses pontos, há outros mais complexos que exigem cuidados especiais com a comunicação. Fogem um pouco do conteúdo em si e têm a ver com a maneira de transmitir a mensagem. Conforme eu disse no princípio vou me ater a alguns aspectos da comunicação do chefe para o subordinado.

Talvez você já saiba que a promessa de brevidade é um dos recursos mais poderosos para quebrar a resistência dos ouvintes com relação ao ambiente. Se as pessoas estiverem cansadas, com pressa, desconfortáveis ou se sentindo pressionadas por terem de permanecer no local da apresentação, a promessa de brevidade é excelente para afastar esse tipo de resistência.

A regra é clara: a promessa de brevidade deve ser sutil e mostrar claramente o benefício dos ouvintes. Deve ser sutil porque se um orador diz apenas que será breve, talvez, os ouvintes não acreditem muito em suas palavras. Afinal, tantos oradores já prometeram brevidade e não cumpriram que esse recurso caiu um pouco no descrédito.

Portanto, o ideal é que o orador diga, por exemplo, que, para encerrar os debates do evento, o ponto que está faltando para fechar o raciocínio deverá ser tratado numa rápida pincelada, ou com uma brevíssima reflexão.

Deve mostrar claramente o benefício dos ouvintes para não dar a impressão de que o orador não está com vontade de falar com o grupo. Por isso, é recomendável dizer, por exemplo, que não irá consumir muito tempo porque sabe que todos ali trabalharam duro o dia todo e estão precisando descansar.

A questão passa a ser mais delicada quando o orador é o superior hierárquico. Não teria sentido o vice-presidente da empresa, por exemplo, demonstrar preocupação em não consumir muito tempo para beneficiar os gerentes e supervisores que participam da reunião. Além de não ser normal que tenham esse tipo de preocupação, dependendo da circunstância, sua autoridade poderia ser enfraquecida diante do grupo.

A presença do grande chefe, entretanto, não fará com que o aparelho de ar-condicionado deixe de fazer barulho, ou que a temperatura se torne mais agradável, ou que os compromissos desapareçam de suas agendas. A situação exige uma saída diplomática e inteligente. Nesse caso, a promessa de brevidade deverá ser feita de forma quase imperceptível, mas suficientemente clara para que as resistências sejam afastadas.

O orador poderá dizer, por exemplo: quero falar rapidamente sobre os critérios do controle de qualidade. Ou, vou falar um pouco sobre os planos de diversificação. Ao dizer que vai falar rapidamente ou um pouco sobre determinado tema, embora a promessa de brevidade esteja implícita, poderá parecer que ele vai falar apenas o tempo que o assunto precisa para ser esclarecido. É uma adequação da regra para que o recurso seja utilizado e atinja seu objetivo sem o risco de qualquer outra consequência negativa.

Outra regra comum e que garante bom resultado no início da apresentação é agradecer a presença dos ouvintes na reunião, pois as pessoas se sentem acolhidas e bem recebidas no ambiente. Considerando o exemplo anterior, entretanto, esse recurso também deveria sofrer adaptações, pois não seria natural que o grande chefe convocasse a reunião e depois tivesse a preocupação de agradecer a presença dos subordinados.

Nessa circunstância a atitude mais adequada seria cumprimentar a pontualidade de todos para tratar daquele assunto tão relevante.

Dessa forma, o chefe valorizaria a presença das pessoas, um ótimo recurso para conquistar a benevolência dos ouvintes, e teria a atenção desde o início ao revelar a importância do assunto.

SUPERDICAS DA SEMANA
✹ Não repreenda subordinados em público. Tenha uma conversa particular
✹ Não contrarie gratuitamente o chefe em público. Tenha uma conversa reservada
✹ Procure sempre a técnica mais adequada para cada situação
✹ Por melhor que seja a técnica, analise a necessidade de adaptá-la à circunstância

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: "Como falar corretamente e sem inibições", "Assim é que se fala" e "Superdicas para falar bem" (também em audiolivro), publicados pela Editora Saraiva





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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