Janelas para a vida

Os poetas dizem, do alto da sua sensibilidade, que “os olhos são as janelas da alma”. Embora pareça mero clichê, trata-se, no entanto, de feliz metáfora, de óbvia verdade da qual nem sempre nos conscientizamos. São estes instrumentos, sempre aos pares, que nos permitem conhecer o belo e o feio. São eles que informam o cérebro sobre as formas, as cores, as tonalidades, o tamanho, a profundidade etc.etc.etc. de tudo e de todos. São, pois, as mais úteis ferramentas do conhecimento. Alimentam o cérebro de informações, fornecem à razão a matéria-prima para a tomada da consciência do mundo e das decisões que nos garantam a sobrevivência e fomentam a geração de idéias. Não é nenhum exagero, pois, afirmar que os olhos são “janelas para a vida”.
Este preâmbulo vem a propósito de memorável sermão do Padre Antônio Vieira (como, ademais, todos os de sua lavra o são), que tenho, agora, à minha frente e sobre cujo conteúdo convido o paciente leitor a refletir comigo.
O incomparável pregador - e um dos maiores estilistas, se não o maior, da língua portuguesa - inicia a prédica em questão com as seguintes exclamações: “Notável criatura são os olhos! Admirável instrumento da Natureza; prodigioso artifício da Providência!”. Não se limita, porém, a louvar a utilidade desse nobre sentido. De imediato, aponta, não só suas vantagens, mas, também, os perigos a que ele nos expõe. Por que essa admiração, esclarecido leitor?
Creio que o pregador tira, a seguir, suas dúvidas (ou as aumenta, sei lá) ao acentuar: “Eles (os olhos) são a primeira origem da culpa; eles a primeira fonte da graça. São os olhos duas víboras, metidas em duas covas, e que a tentação pôs o veneno e a contrição a triaga”. Triaga, para que você entenda a metáfora, é uma espécie de xarope medicamentoso, muito utilizado nos tempos que Vieira viveu. Não ficou convencido ainda? Reproduzo mais um trecho do sermão: “São duas setas (os olhos) com que o Demônio se arma para nos ferir e perder; e são dois escudos com que Deus depois de feridos nos repara para nos salvar”.





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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