Comunicação de presidenciáveis melhora na campanha, mas ainda há erros

Dilma, Serra e Marina falaram durante alguns meses tentando convencer os eleitores de que mereciam receber o voto no dia 3 de outubro. Para ser sincero, eu esperava um pouco mais de emoção nessa campanha. Como não quis ficar apenas com a minha opinião tenho perguntado nas palestras o que os ouvintes acharam dos debates e do programa eleitoral gratuito.

O comentário mais eloquente definiu a participação dos candidatos como morna. Frases repetidas, respostas previstas, tom de voz estudado, gestos programados, beirando ao artificialismo. Está duro de aguentar. E olhe que por força da profissão sou chegado em campanhas eleitorais.

Praticamente todos os candidatos se apaixonaram pelas próprias palavras e saíram repetindo as mesmas frases em todas as oportunidades. Plínio foi o único que ousou um pouco mais. Com ele nos debates a expectativa é a de uma acusação contundente, uma ironia sagaz, um deboche inteligente.

Embora suas ideias não empolguem, pois não consegue romper 1% das intenções de voto, sua maneira de comunicar é um tempero que torna essa campanha presidencial um pouco menos sem graça. Sem contar que do alto dos seus 80 anos é um exemplo de vida. Gostaria de chegar lá com esse pique.

Além dessa pasmaceira quase desanimadora, houve acertos e progressos que precisam ser considerados na comunicação dos candidatos. Por exemplo, fiquei surpreso com o grau de simpatia apresentado por eles. A Marina tem um jeito que nos cativa até sem falar. De Serra e Dilma eu não esperava um avanço tão espetacular.

Em abril, pouco antes de os candidatos iniciarem sua peregrinação, escrevi um artigo aqui no UOL com um pretensioso título 'Conselhos para Dilma e Serra'. Só aos dois, porque Marina Silva ainda não havia despontado como candidata no cenário nacional.

Entre os conselhos que dei aos candidatos, o mais importante naquela oportunidade foi que se mostrassem mais simpáticos. Um amigo dizia em tom de brincadeira que se colocássemos os dois juntos em um copo de água dariam azia em Sonrisal. Afirmei naquele momento que simpatia é requisito essencial para vencer eleições.

Serra, quem diria, passou a sorrir. Até antes de começar a falar já arma o sorriso. Em seguida põe um veludo na voz e destila “seu charme”. Seu maior mérito é apresentar essa simpatia até nas falas de improviso. Quero esperar um pouco mais para ver se não terá recaída depois das eleições.

Dilma ficou simpaticíssima no programa eleitoral gratuito pela televisão. Desenvolveu um tom de voz agradável e um sorriso constante que torna seu semblante arejado e cativante. Até as pausas acompanhadas do 'ééééé' que a mostram insegura nas falas de improviso e em alguns debates são produzidas na medida certa quando lê as mensagens no teleprompter.

Mesmo tendo muito menos experiência que Serra, quando faz uso do teleprompter Dilma conseguiu mais qualidade de comunicação que seu concorrente. Nas falas de improviso, ainda demonstra tensão, e o semblante perde espontaneidade.

Outro aspecto que evoluiu nos três candidatos foi a comunicação visual. Marina parou de fugir com os olhos. Dilma já não desvia tanto o olhar quando precisa procurar respostas. Serra parece que acertou de vez a direção da câmera. Há momentos de hesitação de um e de outro nesse quesito, mas, sem dúvida, melhoraram muito.

Ainda que os gestos pareçam programados em determinadas circunstâncias, é um aspecto que não compromete o resultado das apresentações. Na medida certa, sem excesso, nem falta, como reza a boa cartilha, as mãos não passam na frente do rosto diante das câmeras e acompanham bem o ritmo e a cadência da fala.

Marina é a que tem mais problemas com o vocabulário. Não que não encontre as palavras. Os termos aparecem até com certa facilidade para corporificar seu pensamento, mas são incompreensíveis para boa parte da população. É um linguajar extremamente politizado, incomum para pessoas não acostumadas à militância política.

Serra procura traduzir o economês, mas nem sempre consegue sucesso. Para ficar bom na campanha, precisaria ser ainda mais simplificado. Há momentos em que ele diz a mesma coisa duas vezes na tentativa de tornar a informação mais compreensível. Vai ficar bom quando sair de primeira.

Dilma alterna termos mais simples com palavras mais empoladas. Dá a impressão até que o vocabulário não é dela, tal a diferença de estilo dentro da mesma mensagem. Nas gravações para o horário eleitoral consegue a unidade de vocabulário, sendo que em determinados momentos a qualidade da sua leitura chega a ser até melhor que a de Serra.

Pois é, mesmo sendo uma campanha chata, sem muitos atrativos, o que os candidatos produziram será responsável por boa parte dos votos que conquistarão. Defendo a tese de que boa comunicação é aquela que consegue resultado. Portanto, as urnas dirão quem falou melhor. Que o vencedor seja o melhor para o Brasil.





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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