O Discurso do Rei

Não sobrou pra mais ninguém. O filme “O Discurso do Rei” se torna ainda mais eloquente com 12 indicações para o Oscar 2011. Incluindo aí alguns dos prêmios da Academia mais cobiçados, como melhor filme, melhor ator (Colin Firth), melhor diretor (Tom Hooper), melhor ator coadjuvante (Geoffrey Rush), melhor atriz coadjuvante (Helena Bonham Carter) e melhor roteiro original.

Não há dúvida, é filme bom chegando à praça. “O Discurso do Rei” traz uma mensagem que nos permite profundas reflexões. Segundo Geoffrey Rush (indicado para melhor ator coadjuvante), que faz o papel de Lionel Logue, o professor de oratória do rei, é uma história charmosa, comovedora, potente e emocionante.

É a história de um homem que de uma hora para outra, sem esperar e sem se sentir preparado para assumir o posto, se tornou o Rei George 6º da Inglaterra. Por ser gago e ter, obviamente, muita dificuldade para se comunicar, sofria muito com esse problema. O filme mostra como ele se dedicou para eliminar suas deficiências até conseguir falar em público, porque só assim se sentiria pronto para o cargo.

Com a morte do Rei George 5º o trono inglês passou ao sucessor natural, o Rei Edward 8º. Ocorre que este rei se apaixonara por Wallis Simpson, uma americana que estava se divorciando. A realeza inglesa não concordou com aquele casamento. Edward não se curvou e preferiu abdicar.

Sua carta de renúncia é ao mesmo tempo uma tocante declaração de amor: “Mas, deveis acreditar-me ao declarar-vos que julguei impossível continuar a assumir a minha pesada responsabilidade e a preencher, como desejaria, os deveres de rei, sem o auxílio e o apoio da mulher a quem amo”.

Para encurtar a história e compreender melhor quanto custou essa decisão, basta dizer que ele deixou de receber 4 milhões de libras que lhe cabiam como herança de seu pai, e teve de se virar apenas com os bens que conseguiu amealhar. Viveu exilado até sua morte, em 1972.

Quem poderia imaginar que um rei deixaria o trono para se casar com o amor da sua vida! Por isso, o Príncipe Albert, Duque de York, se surpreendeu quando a coroa, literalmente, caiu em sua cabeça. Principalmente por sofrer de gagueira e não conseguir se expressar em público se achava incompetente para o cargo.

Bertie, como era chamado carinhosamente, era tão tímido que precisou da ajuda da esposa para encontrar um fonoaudiólogo que pudesse afastar aquele drama da sua vida. Rush, que viveu de forma tão intensa esse papel, disse que o problema não era físico, que algo havia ocorrido aos quatro ou cinco anos, algum trauma que provocou a gagueira.

Segundo o ator, ver alguém que luta contra uma incapacidade que se arrasta desde criança e superá-la é como superar todos os problemas. Para isso tem de se dedicar e trabalhar muito para controlá-lo, acertá-lo e libertar-se de alguma forma. E mais, o trabalho só daria resultado se houvesse confiança e cumplicidade entre ambos.

Deparamo-nos aqui com um desafio difícil de ser contornado. Afinal, um era rei e o outro apenas um profissional da fala. Como poderia haver confiança e cumplicidade nessa situação. Bem, não só conseguiram ultrapassar esse obstáculo como construíram uma bonita amizade. Foi assim, que o rei conseguiu fazer seu discurso. O discurso do rei.

Poder, hierarquia, conquistas sociais ou profissionais não são necessariamente requisitos para que alguém perca o medo de falar em público ou consiga excelência na comunicação. O contrário sim pode ser verdadeiro. Aprender a falar bem pode ser o ponto de apoio para o desenvolvimento de uma carreira, independentemente da sua importância.

Quando ministros, governadores, presidentes de importantes empresas multinacionais procuram o nosso curso para desenvolver a comunicação, a reclamação é recorrente: esse desconforto que sinto para falar em público não combina com minha posição. E não combina mesmo. Por isso estão ali. Precisam se dedicar e se preparar para fazer o discurso do rei. Seja lá qual for o seu reinado.

TRAILER DO FILME "O DISCURSO DO REI"







Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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