Dispense os recursos visuais

Você já pensou em rasgar a cartilha, ser mais ousado e falar em público sem o apoio de recursos visuais? Parece até irresponsabilidade, nos dias de hoje, com tanta tecnologia disponível, alguém se apresentar diante da plateia “em pelo”, sem nenhum equipamento para sustentar a apresentação.

Os argumentos a favor dos recursos visuais são inúmeros. A começar pela pesquisa que mostra dados impressionantes. Se fizermos uma apresentação sem o uso de visuais, depois de três dias os ouvintes se lembrarão de apenas dez por cento do que falamos.

Se fizermos a mesma exposição com auxílio de visuais, depois do mesmo período o público irá se recordar de sessenta e cinco por cento da mensagem que transmitimos. É uma diferença tão extraordinária que contrariar esses números, à primeira vista, dá a impressão de insensatez.

Sem contar que os visuais tornam a apresentação mais leve, interessante e persuasiva. Segurar a atenção dos ouvintes por cerca de uma hora é tarefa que exige habilidade, competência e excepcional capacidade de comunicação. Esse trabalho, geralmente, é facilitado com a ajuda dos recursos visuais.

Por esses e outros motivos, quase todo mundo usa recursos visuais em suas apresentações. Principalmente, como vimos, por causa das facilidades proporcionadas pela tecnologia. É simples. Mesmo com limitados conhecimentos de informática, qualquer pessoa pode elaborar bons visuais.

A grande novidade! Alguns palestrantes, dos melhores, passaram a enfrentar as plateias de peito aberto, sem nenhum recurso visual como apoio. E com resultados extraordinários. Começam e terminam suas apresentações olho no olho sem projetar uma tela sequer.

E onde estão as vantagens de falar em público dessa maneira, se essa atitude parece ser um retrocesso? O benefício está na surpresa, no inusitado, no inesperado. Como os ouvintes já se acostumaram a assistir às apresentações com o apoio dos visuais, quando surge um orador inovando, “transgredindo essa regra” as pessoas ficam intrigadas.

Pode passar pela cabeça do público a seguinte indagação: como ele vai conseguir segurar a atenção da plateia e desenvolver a mensagem do começo ao fim sem ao menos usar alguns slides como apoio?! Será que ele não vai se perder ou comprometer o interesse dos ouvintes?!

Falar sem nenhum tipo de apoio talvez seja entendido pelas pessoas como espécie de salto de um trapézio, sem rede de segurança. Para os ouvintes, alguém que toma a iniciativa de agir assim desprotegido é porque tem total domínio da matéria. E mais, tem de ser muito bom de palco.

Outro ponto favorável às apresentações sem recursos visuais é o despojamento do orador. À medida que desenvolve sua linha de pensamento pode dar a impressão ao ouvinte que sem apoio as informações nascem no momento, ali diante da plateia.

Funciona como se fosse uma conversa onde os assuntos se sucedem naturalmente, ao sabor da interatividade. O público admira ainda mais o desempenho do orador, pois se ele consegue organizar as informações no instante em que se apresenta é porque conhece muito bem o tema.

Se você entendeu que basta dispensar os visuais, ir para frente da plateia e comemorar o sucesso da apresentação, talvez esteja se precipitando. Inovar não significa ser irresponsável. Há certos fatores a serem considerados. Vamos analisar cada um deles para que você possa tomar sua decisão.

O conteúdo

Para falar sem os visuais, acima de tudo você precisa dominar com muita profundidade o assunto. Deve estar tão seguro do conteúdo que as informações surgirão naturalmente, desde o princípio até o final. Assim, dependendo do andamento da apresentação poderá mudar a sequência da exposição com tranquilidade.

Como você estará em voo solo não dá para ter conteúdo limitado. Precisa sobrar matéria, suficiente para substituir o que porventura não esteja agradando, ou caso tenha de esticar um pouco mais. O repertório de histórias também deve ser extenso, sempre com algumas das boas no estoque.

O tempo

Os melhores resultados sem recursos visuais são obtidos em apresentações que duram no máximo uma hora e meia, dependendo, lógico, da circunstância do evento e desempenho do orador. Portanto, se tiver de falar por mais de uma hora e meia, talvez não seja interessante abandonar totalmente os visuais.

O espetáculo

O que atrai os ouvintes em uma apresentação não é apenas o conteúdo, mas também, e em muitos casos, principalmente o espetáculo, o show. De maneira geral os visuais são ótimos para promover o espetáculo na apresentação. Sem eles será preciso encontrar bons substitutos.

Cada orador deve descobrir e usar o que possui de melhor para introduzir espetáculo em sua apresentação. Alguns sabem fazer imitações, outros contar histórias, há aqueles que têm habilidade para usar a presença de espírito ou interagir com os ouvintes. Identifique suas melhores competências e as use para manter o público atento e interessado.

A movimentação

Além de interagir com os ouvintes, de vez em quando mude o foco de atenção do público. Pelo menos a cada dez minutos mude de posição diante da plateia. Movimente-se no meio das pessoas, saia de um lado da sala e dirigia-se a outro ponto. Alterne o volume da voz e a velocidade da fala.

As pausas

A pausa é sedutora. Quando feita no momento oportuno, valoriza a informação transmitida, demonstra domínio sobre o tema e cria expectativa sobre o que será dito a seguir. Depois de cada bloco de informações relevantes faça pausas mais prolongadas. Faz parte do espetáculo.

A novidade

Mesmo se movimentando diante dos ouvintes, depois de certo tempo as pessoas terão dificuldade em acompanhar e se concentrar na linha de raciocínio. Interrompa o que estiver dizendo e conte uma história curta e interessante para distrair as pessoas e permitir que voltem a se concentrar.

Forma física

As apresentações sem o auxílio de visuais cansam mais. Muito mais. Enquanto projeta os slides e filmes o orador descansa, se refaz. Sem eles você estará em atividade e concentrado o tempo todo. Se resolver falar sem esses recursos saiba que vai se desgastar e consumir mais energia.

Humor e histórias

De todas as recomendações que fiz, as duas mais importantes são o humor e as histórias. Dificilmente você Conseguirá manter a concentração da plateia sem os visuais se não for bem-humorado e não souber contar histórias.

Só tome cuidado com o exagero. Histórias e gracinhas demais podem atrapalhar. Observe ainda o tema e o objetivo da apresentação. Em alguns casos o humor não tem lugar e as histórias precisam ser muito bem contextualizadas para não destoar.

Você não está obrigado a usar ou deixar de usar os recursos visuais. O sucesso ou fracasso da apresentação será sempre responsabilidade sua. Por isso, avalie bem antes de se decidir. Se, entretanto, não havia passado pela sua cabeça falar sem esse apoio, vale a pena refletir sobre o assunto.

Quem sabe você não encontra nessa mudança o resultado que está procurando para melhorar o resultado de suas apresentações. Considere também que nada precisa ser definitivo. Faça o teste. Se estiver inseguro, deixe tudo montado para uma emergência. Se você sozinho não estiver dando conta do recado, os visuais estarão lá para socorrê-lo.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Observe os bons palestrantes que falam sem apoio de visuais
- Comece falando sem visuais em apresentações curtas
- No início, apenas reduza a quantidade de visuais
- Descubra e aperfeiçoe o que sabe fazer de melhor para cativar o público
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Recursos audiovisuais nas apresentações de sucesso", "Como falar corretamente e sem inibições" e "Superdicas para falar bem", publicados pela Editora Saraiva, também no formato digital.





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

O conteúdo veiculado nas colunas é de responsabilidade de seus autores.