E o que mais?

As lições de vida vêm de onde menos se espera. Uma delas foi marcante. Era apenas mais um curso que eu ministrava em Vitória, no Espírito Santo. Como parte do treinamento, os alunos deviam contar um fato relevante da sua vida. O objetivo do exercício era avaliar a espontaneidade de cada um quando falavam em público.

As histórias de viagem, de desafios profissionais e de bebedeira da época em que eram estudantes e moravam em repúblicas se sucediam. De repente, surgiu uma experiência diferente que tinha tudo para começar e terminar sem provocar o interesse do grupo.

Um dos alunos contou que o filho pequeno, ainda nos primeiros anos escolares, chegou em casa, jogou a mochila no canto da sala e foi correndo lhe entregar o relatório de aproveitamento das atividades desenvolvidas em sala de aula.

Nosso aluno disse que desejava muito saber sobre o aprendizado e participação do garoto e, por isso, olhou as avaliações com bastante atenção. À medida que observava os comentários da professora e conferia o relatório fazia suas observações: filho, você precisa terminar os desenhos, conversar menos com os coleguinhas durante a aula e não dobrar as folhas do caderno.

O filho olhava para o pai e com os olhinhos brilhantes indagava: e o que mais? O pai continuava a analisar os resultados da avaliação e apontava o que poderia ser melhorado. O filho continuava firme em sua frente e não parava de perguntar: e o que mais?

Só depois de um bom tempo o pai caiu em si e percebeu que só estava apontando os defeitos, em nenhum momento havia feito um comentário sequer sobre os méritos do garoto. O filho, entretanto, estava ansioso para ouvir algum elogio ou palavra de incentivo.

O pai, então, passou a mencionar todos os pontos positivos que pôde encontrar. Revelou que a cada descoberta fazia uma festa com o filho. Comemorava os acertos com voz vibrante e entusiasmada. O semblante do menino ficou iluminado de alegria. Ele estava envaidecido por ter conseguido resultados que davam orgulho ao pai.

Que lição para a nossa vida! Será que não agimos assim com subordinados, com nossos pares, com a esposa, com o marido, com os amigos. Quantos esperam que seus feitos sejam reconhecidos e aplaudidos, mas, sem perceber, às vezes, só temos olhos para os erros e palavras de críticas e censura.

Sem contar que certas pessoas por se mostrarem tão fortes, seguras e confiantes parecem não precisar que valorizem suas realizações. Em alguns casos, entretanto, são até mais carentes que a maioria. Apesar da aparência, no fundo são frágeis e precisam muito de reconhecimento.

Vale a pena nas próximas conversas com aqueles que nos cercam pedindo avaliação de seus trabalhos não sermos tão rigorosos com a crítica. O foco no negativo pode ser desestimulante e, quase sempre, fazer mais mal que bem. Não custa nada, mesmo que não nos perguntem responder como se esta pergunta fosse feita: e o que mais?

SUPERDICAS DA SEMANA

✳ Quem pede crítica ou avaliação normalmente deseja ouvir elogio
✳ Nenhum trabalho é tão ruim que não mereça alguma apreciação positiva
✳ Ninguém é tão poderoso ou forte que não necessite de reconhecimento
✳ Vale a pena ser tolerante e generoso nos elogios com quem convivemos
✳ Ah, principalmente ser tolerante e generoso nos elogios com relação a nós mesmos





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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