Resultado, não objetivo

Os conceitos de “sucesso”, em voga na nossa sociedade, parecem-me bastante vagos e, sobretudo, subjetivos. Há um equívoco básico nessa conceituação: consideramo-lo um “objetivo” a alcançar, quando deveria se tratar de um “resultado” de nossas ações e aptidões.

Tentarei explicar-me melhor. Tomemos como exemplo um clube de futebol profissional de primeira linha, da Série A do Campeonato Brasileiro. Pelo menos em tese, todos eles almejam, ao iniciarem a competição, o mesmo fim: serem campeões.

Alguns, no entanto, agem efetivamente nesse sentido, mediante administração eficiente (sobretudo a das finanças). Revelam competência na contratação de um treinador reconhecidamente de “ponta”. Formam um plantel com os melhores atletas para cada posição e com substitutos à altura para eventualidades. E proporcionam infraestrutura ideal, como excelentes centros de treinamento, departamento médico reconhecidamente eficaz, equipamentos de fisioterapia de última geração etc. para o grupo trabalhar.

Enquanto isso, outros tantos clubes apostam em aspectos meramente subjetivos, como tradição, tamanho da torcida, prestígio, história etc.. Descuidam-se, no entanto, de aspectos práticos, ao contrário da atitude dos reais candidatos ao título.

Têm, por exemplo, um presidente centralizador, que confunde o patrimônio coletivo com um empreendimento seu, particular. Além disso, para complicar, esse dirigente toma decisões irracionais, movidas exclusivamente pela paixão e não raro desperdiça fortunas nisso.

Contrata mal, tanto o treinador quanto jogadores. Ao primeiro insucesso, demite o técnico e não raro repete essa atitude por outras duas, três ou até mais vezes ao longo da competição. Em contrapartida, não proporciona a menor estrutura de trabalho para a equipe e, de quebra, atrasa salários, ou paga somente o das “estrelas” do plantel, dividindo o grupo, que não se sente comprometido com o objetivo a alcançar.

Qual desses clubes tem maiores chances de sucesso, o que se organizou, planejou e se preparou meticulosamente para a disputa ou o que confiou, apenas, no acaso ou na tradição? A menos que ocorra uma dessas casualidades tão características de qualquer competição (o que é cada vez mais raro) claro que o campeão, com altíssima probabilidade, será quem agiu para que isso ocorresse. Ambos tinham o mesmíssimo objetivo quando o campeonato começou. Mas o sucesso não ocorre por acaso, pelo simples fato de ser meta perseguida. É, sobretudo, resultado.

Isso vale não somente para o esporte (no nosso exemplo, o futebol profissional). Em todas as atividades também acontece a mesma coisa, com maior ou menor intensidade. Se eu escrever um livro pensando apenas no sucesso (e ninguém se propõe a escrever de olho no fracasso), mas não tiver talento, não me dedicar com afinco ao texto de sorte a torná-lo próximo da perfeição, o resultado será um rotundo fracasso, tendo, de lambuja, uma imensa frustração. Só serei bem-sucedido (e mesmo assim o êxito nunca é garantido) se agir com eficiência nesse sentido. Caso contrário...

Tomemos outro caso, o de um relacionamento afetivo, por exemplo. Podemos nos interessar por determinada mulher por dois motivos básicos (embora isso possa ocorrer por “n” outras razões): irresistível atração sexual ou isto e mais a detecção de inúmeras virtudes nela, que a qualifiquem para ser nossa parceira por toda a vida e a mãe dos nossos filhos.

O “sucesso”, no primeiro caso, será a satisfação da nossa libido. Mas isso apenas será possível se ambos tivermos compatibilidade física e nos desejarmos com a mesma intensidade, o que raramente acontece. Caso contrário... poderá redundar num traumático (para ambos) fracasso. Está aí. Mais uma vez, o sucesso se mostrará resultado, não mero objetivo.

Aprofundemos nosso exemplo. Se a nossa intenção for um relacionamento mais profundo e duradouro com determinada mulher que nos atraia, “até que a morte nos separe”, não bastarão sua anuência e o conseqüente casamento. Esse vínculo (como qualquer outro) pode ser desfeito. Teremos que agir, e a vida toda, por anos e mais anos, no sentido de preservar essa relação e ampliá-la ao máximo.

Como? Sendo responsáveis, pacientes, compreensivos, cúmplices etc. Caso contrário, em três tempos, à primeira rusga mais séria, o vínculo afetivo que nos parecia indissolúvel se dissolverá, fazendo com que cada qual siga seu próprio caminho, o que é, convenhamos, para lá de comum.

O sucesso, portanto, não será a aproximação de ambos, o namoro, o casamento, a relação sexual e a geração de filhos. Será a durabilidade da relação, ou seja, será conseqüência da mútua paciência, responsabilidade, compreensão, cumplicidade etc.etc. etc. Pense nisso.





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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