A maior invenção do homem

Meu pai sempre dava jeito de se aproximar das inovações tecnológicas, o que ele gostava de comentar da importância de determinadas coisas da modernidade. Pois foi por obra sua que aprendi, ainda nos anos 1980, algo sobre programas de computador como os rudimentares Cobol e Basic. Mas que muito me serviram na compreensão do mundo do livro e da própria literatura, por mais estranho que possa parecer.

Ele, volta e meia, dizia que tal coisa ou tal máquina havia sido a maior invenção do homem. Ríamos, na família, dessas observações. Não pelo ridículo que talvez soasse no momento, mas porque nos parecia óbvia a importância de um computador ou de uma geladeira, ou um celular, e outros tantos que se apresentavam inovadores com o passar dos anos. Ora, pai, a coisa está ali porque é assim mesmo, tudo é uma grande invenção, e tudo é maior quando se lança, depois ninguém mais se lembra.

Na conta de uma diabetes traiçoeira, que comprometeu seu coração e o levou inesperadamente, sua persistência proverbial conseguiu legar a cada um dos filhos, nora e genros, a lembrança em se dar o devido valor a coisas que nos pareciam ter estado ali desde a origem do homem, mas que haviam mudado o mundo sem que percebêssemos.

Não recordo qual foram suas últimas observações ou à qual invenção se referia. Creio, possivelmente, fosse em respeito à rede mundial de computadores, nossa conhecida internet.

E sobre esse assunto que me encontrei refletindo quando recém terminava de ver, pela internet e numa rede social, um curto vídeo onde dois rapazes gêmeos assumiam, por telefone e à viva voz, sua orientação homossexual para seu próprio pai, que vinha a ser o último da família a tomar conhecimento da notícia. Esse vídeo, possivelmente gravado de um quarto de dormir, visto a bagunça ao fundo, tinha, na íntima beleza da história, o mais sincero e constrangido choro do instante em que se revelavam ao pai.

A chamada para que víssemos o vídeo, dava enfoque à boa e amorosa acolhida daquele pai, ele que se encontrava em outro estado norte-americano. Pois reconhecia que os adorava e respondia, em bom som, que nada mudaria nos seus sentimentos para com eles, e, ainda, nas palavras de pura sabedoria, tinha a consciência de que seus dois meninos pertenciam à outra geração. A ele, portanto, não caberia qualquer tipo de julgamento por suas orientações sexuais, "I love you guys".

Passado o abalo inicial, que compartilhei o vídeo prontamente, me perguntei se tinha ou não, meu falecido pai, toda a razão? Ele, na simplicidade herdada de um passado acostumado à limitações e censuras, tinha ou não razão em dizer que a maior invenção do homem era o computador? Ah, meu pai, o computador sozinho, não, mas o senhor tem toda a razão, com a internet e as redes sociais, nossa, não há comparação com nada que exista nesse planeta Terra.





Escritor, poeta e cronista, Paulo Tedesco contribuiu por vários anos para diversos jornais brasileiros na Flórida-EUA. Conheça o Blog do autor - clique aqui!

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