Mágico, o nosso real

A ideia primeira desta nova crônica, face às turbulências políticas vividas pelos resultados das eleições de 2014 no Brasil, e que reverberaram desde então, era falar do realismo fantástico, ou Realismo Mágico, na literatura latino-americana e brasileira. Mas a notícia do relançamento, em nova roupagem editorial, das obras de JJ Veiga ou José J. Veiga desviou-me um pouco do curso.

Embora José J. Veiga seja um dos melhores expoentes desse belíssimo capítulo da literatura mundial, chamado realismo mágico (realismo maravilhoso, para os que leem em espanhol), e algumas de suas obras, como Os Cavalinhos de Platipanto, O Relógio Belisário e A Hora dos Ruminantes, são lembradas quando se fala desse autor e do Realismo Mágico brasileiro, o que despertou a curiosidade foi a coincidência de tudo.

Em outras crônicas, vinha já jogando luz sobre a importância da boa literatura e sua fruitiva leitura para as coisas desse muito barulhento iniciar do novo milênio. Dizia, se bem lembro, da atualidade da poesia e das atitudes de escritores e suas obras, para que assim compreendêssemos, com impressionante clareza, o caos que parece haver se instalado tanto no noticiário como na modernidade.

Mas foi a reedição de um hoje quase esquecido José J. Veiga, por uma editora que faz pouco virou multinacional, como a Companhia das Letras, num momento grave, que nos reedita os horrores de golpes e manifestações fascistas, e das cruéis perseguições aos anti-fascistas e lutadores, que me obrigou, a não mais somente, como pensava, falar da luta pela democracia e da literatura.

Pois, quem diria, que livros lançados nos anos 1950, não só seriam relidos (e bem), como também relançados por uma indústria multinacional, quase setenta anos depois? E outro, quem apostaria no Realismo Mágico, entre tantas correntes literárias, como à que conseguiria dar conta das disputas e ataques à nossas riquezas pelo império norte-americano e seus asseclas brasileiros? O Realismo Mágico ou a literatura do realismo fantástico, tocou raízes e disso não há qualquer sombra de dúvida. Tocou raízes e proporcionou, como só aos clássicos cabem, um incessante polvilhar de importantes discursos e pensamentos.

José J. Veiga, Murilo Rubião, e seus colegas, o colombiano Gabriel García Marquez, o peruano Manuel Scorza, os argentinos Julio Cortázar e Jorge Luis Borges, entre outros, escreveram, lá pela metade do século passado, sobre a essência do seu mundo, mundo que se transformou universal, com direito a prêmio nobel de literatura e seguidores apaixonados. E, talvez, a mágica desse realismo, que em mim chegou ainda na fase tenra das primeiras leituras e com sua encantadora vivacidade me contagiou para além do sonho, além do real, ao fim, não passe de encantamento, um pouco taciturno, mas contente por certo. Quer saber? Dane-se o real.





Escritor, poeta e cronista, Paulo Tedesco contribuiu por vários anos para diversos jornais brasileiros na Flórida-EUA. Conheça o Blog do autor - clique aqui!

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