Dall'Alba

Nesta segunda-feira despertei pensando, cadê o frio? Quero frio! Quero páscoa! Sim, porque sem frio nem a páscoa esquenta. E segui minha perseguição ao frio, para quando viria? Não que desejasse aquelas picos de inverno, nada disso, esses virão, por certo, mas aquele friozinho da troca de estação é por mim esperado como presente de natal, ou melhor, de páscoa. Há que vir!

Toda a segunda-feira observo a previsão do tempo para a semana, e dou busca, dentro do possível, em diferentes fontes, sabendo que até para a previsão do tempo o melhor é colher variadas impressões sobre um mesmo tema. E é bastante curioso como ocorrem, os institutos de clima muitas vezes convergem, mas quando divergem, tudo na semana pode acontecer.

E nessa de troca de estação, da quente para a fria - teoricamente não muito fria pois é meia-estação -, é que aquele cansaço, fruto dos calorões, se faz presente. Nele parece somar todo o azafama da volta às aulas e o retomar no ritmo de trabalho incessante, fazendo contraponto ao prolongando período de descanso que já se finda.

A presença dos calorões de março, aqui no sul do sul da América do Sul, nos faz quase implorar por uma clima decente e mais propício ao levantar cedo, ao tomar banho cedo, o que implica no deslocamento de casa para local de trabalho e depois novamente para casa; que é quando o clima mais se apresenta como bom amigo ou assaz inimigo.

De repente, na primeira nota, a notícia tão desejada: está prevista a chegada de frio para a semana, com queda de temperatura ao amanhecer na casa dos dez graus, ou pouco mais, mas ele vem. Era o que me bastava, era o frio! O frio, gente! E, pensando nele, na biblioteca encontrei a poesia de Eduardo Dall'Alba, poeta morto no natal de 2013, e que não teve repercussão alguma na maioria da imprensa fora da sua cidade, Caxias do Sul. Ele que foi professor, crítico e poeta laureado de poesia marcante, vindo a falecer em pleno verão dos calorões, sem ter merecido maior destaque, ainda que com uma poesia maravilhosa reconhecida regionalmente.

Cito um verso de Casa de Pedra, presente no livro premiado pelo Açorianos de 2001 e editado pelo nosso querido IEL, de título Vinhedo das Vaidades: "Não o frio do inverno/ nas pedras postadas uma a uma,/ mas o despojamento da forma./ A pedra marca por fora/ o frio que se passa por dentro." E por aí segue o poema, falando da aspereza da casa de pedra dos imigrantes italianos e da dureza do frio frente à vida colona, que o mestre Eduardo Dall'Alba tão bem deixou nesse livro.

O frio da semana infelizmente não veio, e, em seu lugar, nos chegou outro daqueles calorões abrasadores. Tudo bem, na troca do meu desejo pelo frio revisitei as pedras e as casas de um colono maravilhoso como o Dall'Alba. Um abraço saudoso, velho amigo, tua poesia segue viva no coração dos homens, a tarefa foi cumprida.





Escritor, poeta e cronista, Paulo Tedesco contribuiu por vários anos para diversos jornais brasileiros na Flórida-EUA. Conheça o Blog do autor - clique aqui!

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