Dilma e Lula. A resistência da resistência

Muitos usam Ghandi como exemplo de liderança. Uma figura rara que cunhou o tema “resistência pacífica” como lema e mote no enfrentamento ao cruel domínio britânico na Índia. Ghandi, como se sabe, numa luta que começou solitária, provocou a onda que conseguiu tirar seu país dos domínios de um império usualmente truculento e, à época, chamado de “o império onde o sol nunca se põe”, tal sua extensão global.

Mas à Ghandi, que depois veio se tornar dirigente máximo da nova e independente Índia, se soma também Martin Luther King, outro lutador, que de forma pacífica e inteligente, e valendo-se unicamente da palavra como arma, provocou nas entranhas brancas norte-americanas uma revolução, que ainda hoje, passados 47 anos de sua morte, é símbolo de liberdade e coragem.

Entre essas duas figuras da história mundial na luta contra a opressão há, no entanto, mais do que seus gigantescos legados de vida na política. Os dois foram igualmente assassinados por radicais, gente movida pelo ódio e pela pequenez, que pensavam fazer história com as próprias covardes mãos.

Mas não vá pensando que esses assassinatos ocorreram como fatalidade. Não, Ghandi e Martin Luther King foram assassinados poque existia um ódio tal, disseminado e incentivado por atores das suas sociedades, que atentados às suas vidas eram mais do que prováveis, e assim o foi.

E seria demais colocar algumas das figuras proeminentes da esquerda brasileira, hoje, na política nacional, num quadro semelhante? Não podemos duvidar que a campanha da difamação, da ameaça aberta e violenta ganharam terreno como não víamos no Brasil faz muito. Talvez seja o momento da mais legítima reflexão sobre os limites que essas campanhas agressivas vem alcançando. O atentado ao Instituto Lula, a se ver o recente domingo, 16 de agosto, foi espécie de amostra grátis do que ainda vem por aí.

Mas seria bom, por outro lado, analisarmos o peso histórico do que estamos a viver. Sim, o peso das atitudes inteligentes de Dilma e Lula, alvos preferenciais da raiva de ricos e golpistas. Em momento algum saíram eles a falar em revide, tampouco falaram em devolver na mesma moeda ou de que alguém devesse perseguir outro alguém por ter dito isso ou aquilo. Muito pelo contrário, pregaram, e ainda pregam o diálogo, a conversa, a democracia.

Pois não creio, e não quero crer, que tenhamos no Brasil Ghandi e Martin Luther King. Dilma e Lula precisam e devem ser preservados, afinal a luta é maior do que eles, é de todos os brasileiros. E é inaceitável, quando se fala em democracia e maturidade democrática, qualquer tipo de agressão ou ameaçascomo estamos vendo repetidamente. O nazi-fascismo acabou, as ditaduras acabaram, e é urgente que se acabe também o desrespeito e agressão por parte de quem deveria preservar a democracia mas insiste em ataca-la.





Escritor, poeta e cronista, Paulo Tedesco contribuiu por vários anos para diversos jornais brasileiros na Flórida-EUA. Conheça o Blog do autor - clique aqui!

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