W da questão

Foi com desconfiança que recebi a notícia sobre a multa de 7 bilhões de dólares, que a Volkswagen americana tomava por conta de uma suposta malandragem nos carros a diesel da empresa vendidos nos Estados Unidos da América. A história parecia tão absurda, como a maioria desse tipo de matéria, que aproximava-se do inverossímil. Pois além de uma impensável multa, as ações na bolsa da empresa despencariam incríveis 30% mundo afora, afetando o conjunto das empresas produtores de veículos em todo o planeta. O que tornava difícil descobrir qual o prejuízo maior e direto do escândalo.

Vejamos: a empresa com matriz na Alemanha mas espalhada pelo globo, para ganhar mercado nos Estados Unidos, o maior mercado do mundo para automóveis, em 2008 anunciava que seus carros a diesel entravam na nova era dos combustíveis, e a partir daquele instante seriam, revolucionariamente, mais potentes, mais econômicos, e muito, mas muito menos poluentes que qualquer outro carro movido a diesel vendido no mercado norte-americano.

Eis que, sete anos depois, surge a denúncia, promovida por um órgão norte-americano (Environmental Protection Agency), de que os tais carros da Volks movidos a diesel e menos poluentes não passavam de um truque. E um truque e tanto, diga-se de passagem. A coisa era realmente fantástica: os carros movidos a diesel, embora de fato mais potentes, eram na verdade muito mais poluentes, ao contrário do que alardearam fartamente no lançamento da "revolução", lá em 2008.

Mas essa não seria a pior das notícias, a pior estava por vir. A Volkswagen com sede nos Estados Unidos, para esse lançamento de seus carros a diesel, embutira secretamente um programa de computador em cada um dos automóveis, que, ao serem testados pela emissão de poluentes (nesse país existe uma escolha oficial e aleatória para a verificação da emissão de poluentes em carros novos), reconhecia que estavam sendo avaliados e alteravam de imediato o funcionamento do motor. Algo que em condições urbanas significaria bem menos potência e, logo, não tão atrativo ao consumidor, e incrivelmente mais poluidor na maior e mais poluente frota global.

Em resumo, alguém da empresa, apoiado por superiores, teve a infeliz ideia de enganar a todos e ao mundo enfiando um programa informático que permitisse o sonho do motor a diesel se realizar: mais potência com menos poluição e assim alavancar de vez a venda dos veículos alemães nos Estados Unidos. Pois, vou confessar, desta vez a notícia ou a denúncia era 100% verdadeira. E o mais incrível, não só derrubou alguns poderosos da empresa como, parece, está a levantar uma nova onda de processos e críticas concretas ao uso de combustíveis fósseis em veículos automotores. O que pode acelerar, em definitivo, o surgimento e o barateamento de tecnologias menos poluidoras para o uso de veículos de transporte.





Escritor, poeta e cronista, Paulo Tedesco contribuiu por vários anos para diversos jornais brasileiros na Flórida-EUA. Conheça o Blog do autor - clique aqui!

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