Novo mundo

O advento da era da comunicação em massa trouxe inegável e inequívoco incremento na qualidade de vida das pessoas, que a maioria sequer atina. A atual geração, deste início de milênio, já nasceu com esse fantástico aparato comunicativo consolidado, funcionando e em franca evolução. Desconhece, portanto, o que é ficar sem eletricidade – embora pesquisas revelem que um bilhão de pessoas mundo afora ainda não disponham desse recurso –, sem telefone, sem rádio, sem televisão, sem jornais, sem cinema, sem veículos automotores, sem aviões etc. E tudo isso existe há pouco mais de um século. E, claro, os que contavam com essas facilidades não tinham aparelhos com a sofisticação e com o alcance dos existentes hoje.

Alguns desses aparatos são ainda mais recentes, como é o caso da TV, cujo primeiro canal efetivo passou a operar apenas em 1937, na Grã-Bretanha. Os computadores, por sua vez, se transformam, com uma rapidez inimaginável em um passado recente, em equipamento imprescindível para qualquer pessoa. No meu caso, essas máquinas já se tornaram rigorosamente essenciais para o exercício das minhas atividades, quer jornalísticas, quer de escritor.

A tendência é que num tempo não muito longo, de um lustro ou menos, quem sabe, os computadores, que ainda assustam e atemorizam muita gente, sobretudo pessoas mais idosas, se tornem objetos absolutamente triviais nos lares dos brasileiros, como qualquer eletrodoméstico ou como os receptores de televisão. Estamos caminhando a passos largos para isso. A dificuldade ainda é o custo do equipamento que, no entanto, já é bem menor do que, digamos, era em 1995, por exemplo.

Está prestes a acontecer, fatalmente, com o computador, o que ocorreu no passado com o rádio. Poucas famílias tinham condições de possuir um desses aparelhos no início dos anos 30. Hoje, compra-se um receptor de boa marca por uma bagatela.

O mesmo já aconteceu em relação à televisão. Hoje, até moradores de rua, que se abrigam sob pontes e viadutos, que não possuem sequer cama, fogão ou qualquer outro equipamento de primeira necessidade, têm seus receptores de TV para lhes garantir a diversão. Num futuro não muito distante, essa popularização vai ocorrer também, fatalmente, em relação ao computador, de utilidade muito maior do que os aparelhos eletrônicos citados, se é que já não esteja ocorrendo.

Esta facilidade de se comunicar de nossos dias influenciou diretamente o comportamento das comunidades, dos países, das cidades, das pessoas. Até meados do século XIX, por exemplo, não existia a indústria fonográfica, pois nem mesmo o fonógrafo havia sido inventado. O mesmo acontecia em relação ao telefone. O rádio não passava de mera idéia, de potencial conceito na cabeça do seu inventor.

As cidades eram iluminadas por lampiões a gás, pois não havia eletricidade. O transporte urbano era feito por veículos a tração animal, como os tilburis e carruagens, além de charretes e carroças. Para ir de São Paulo a Recife, por exemplo, quem se dispusesse a essa temeridade teria que se utilizar de navios ou enfrentar semanas, senão meses, por estradas de terra, que sequer mereciam esse nome, que não passavam de picadas, de meras trilhas, inseguras e instáveis. O avião ainda não havia sido inventado, já que data de 1906.

O lazer oferecia pouquíssimas opções. Não havia cinema, televisão, futebol etc. Nos finais de semana e feriados inexistia a possibilidade de deslocamento de multidões rumo ao litoral, ou ao interior dos Estados, como ocorre agora. Uma viagem de Campinas para Santos, que hoje leva menos de duas horas, só podia ser feita em lombo de cavalo ou de burro, através de perigosíssimas trilhas na Serra do Mar. Durava, no mínimo, um exaustivo dia inteiro ou mais. Era uma aventura que poucos se arriscavam a empreender. E jamais a título de lazer.

Notícias só poderiam ser conhecidas através de jornais e revistas e chegavam com atraso de meses. Não havia, obviamente, a instantaneidade de hoje. Os repórteres, mesmo os urbanos, não dispunham sequer da facilidade do telefone. Precisavam contar com fartas e variadas fontes que lhes notificassem os acontecimentos e que mesmo assim eram informados aos leitores semanas depois da ocorrência. Hoje, este aparato comunicativo é encarado como uma coisa tão normal que não se atina sobre a sua inexistência. O advento dos meios de comunicação inaugurou a era das celebridades. Cantores, jogadores de futebol, atletas de quaisquer modalidades esportivas, artistas plásticos, escritores, atores, políticos etc., dependem, visceralmente, dos jornais e emissoras de rádio e televisão.

Essas facilidades, no entanto, paradoxalmente, distanciaram as pessoas, em vez de aproximá-las, como seria de se esperar. Diante da inexistência desses meios comunicativos, se alguém quisesse ouvir música, teria que ir a algum teatro onde estivesse sendo apresentada alguma ópera, ou a algum café, que dispusesse de cantores contratados, ou participar de saraus em casa de amigos, para o que precisava ser convidado. As relações eram exclusivamente interpessoais.

Hoje, posso ser um sujeito fechado, não me relacionar, pessoalmente, com quase ninguém, e ainda assim ter acesso a esse prazer. Basta ligar um rádio, que se tornou objeto trivial e barato, para ouvir meus cantores favoritos em qualquer hora ou lugar. Ou adquirir um CD, um "disk-laser" ou mesmo uma há tempos ultrapassada fita cassete em uma das tantas lojas do gênero espalhadas por aí para ter em casa, o tempo todo, na hora em que quiser e quantas vezes desejar, os artistas da minha preferência.

Isso, se não tiver computador e algum dos tantos smartphones, do tipo MP3, MP4 e vai por aí afora. Se dispuser, minha facilidade será quase infinita. Poderei ouvir minhas músicas prediletas no próprio micro, se preferir, acessando um dos tantos sites especializados, baixando o que quiser. Ou salvar o que me der na telha no MP3, MP4 ou outro equipamento até mais sofisticado. Não preciso, pois, sair de casa para ouvir as músicas que me exigiam tanto sacrifício para ter acesso até não faz muito tempo.

Se quiser ter acesso a histórias, sejam românticas, de aventuras, de mistério, policiais ou até mesmo pornográficas, não preciso sequer ler nenhum livro. É só alugar uma fita de vídeo e na sala da minha casa, com todo o conforto e intimidade, usufruir dessa vantagem. Ou adquirir um dos milhões de e-books ao meu dispor, formando, em espaço reduzidíssimo, vasta biblioteca eletrônica, se esta for a minha vontade.

Ou nem isso. Se for assinante de um serviço de TV a cabo, basta sintonizar o canal adequado, especializado na área da minha preferência. Se quiser conversar com alguém, esteja onde estiver, não preciso sair procurando um telefone e torcer para que esse indivíduo esteja também próximo de um aparelho. Basta acionar o meu celular, ligar para o número dessa pessoa e pronto. E mesmo assim, há quem diga que a vida, hoje, se tornou mais difícil! Imaginem se este crítico da modernidade vivesse, digamos, em 1896! E nem precisa tanto. Que estivesse, agora, em 1926, 1945, 1956 ou mesmo em 1985...

O advento dos meios de comunicação, por outro lado, transformou em balela, em mero bla-bla-bla, o conceito antiquado de soberania. Não há fronteiras paras ondas de rádio, sinais de televisão e muito menos para a Internet. A vida tornou-se muito mais difícil, felizmente, para os raros e ferozes ditadores que ainda atormentam e subjugam seus povos, que começam a cair um a um. Vejam o que ocorreu ainda recentemente com Hosni Mubarak, no Egito, e com Muammar Khadafy, na Líbia.

Coincidência ou não, simultaneamente à expansão da informática, ocorreu o declínio das ditaduras. Hoje é impossível a um maníaco com ares de grandeza tapear seus concidadãos com propaganda enganosa e mentiras deslavadas. Não há fronteiras, repito, para as ondas de rádio, sinais de televisão e para a Internet. Neste caso, felizmente!

Mas a tecnologia eletrônica promete maravilhas muito maiores do que as citadas acima. Em termos de jornais, que é a minha especialidade, a atual geração de editores é pioneira na utilização de computadores, tanto na captação, quanto na elaboração das notícias e nas posteriores fases do processo informativo, como a edição, a paginação, a impressão e até a distribuição do produto final para os assinantes e para os pontos de venda. E isso, para jornais e revistas impressos. Por falta de um balizamento, tivemos que aprender sozinhos, à força, da noite para o dia, como operar essas máquinas, que a princípio se nos apresentavam complicadas e assustadoras.

Hoje, nenhum jornalista que se preze, repórter ou editor, novato ou veterano, concebe fazer um jornal que não seja utilizando os múltiplos e crescentes recursos oferecidos pela informática, como os tablets, por exemplo. As primeiras empresas que se informatizaram estão tendo que investir em equipamentos cada vez mais modernos, mais sofisticados e mais ágeis, que operam cada vez mais rápidos, com maior eficiência e disponibilidade de recursos, para não serem vencidas pelas concorrentes.

Na atualidade, nem mesmo os mais despretensiosos pasquins de bairros ou os simples boletins de empresas ou de sindicatos, são confeccionados da forma artesanal que não faz muito caracterizava os diários de maior circulação no mundo. São todos informatizados. E vêm novidades por aí. Na área tecnológica, é impossível de prever onde a coisa vai parar. Qual a tecnologia que estará à disposição do jornalista do terceiro milênio? Os limites, no caso, são os da imaginação. E esta pode voar livremente, rumo ao infinito, sem ser contida.





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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