Poluição, praga apocalíptica

A poluição ambiental, a ameaça das armas nucleares que ninguém comenta, mas que é real; a violência crescente e as distorções econômicas que aumentam os contingentes de miseráveis no Planeta são, certamente, os maiores problemas que precisam ser equacionados pela humanidade neste século XXI, posto que, infelizmente, não os únicos. São herança maldita que vem desde a épocas do início da Revolução Industrial de meados do século XVIII.

Alguns destes males colocam em risco a vida animal e vegetal e, portanto a humana, e representam magníficos desafios para técnicos, cientistas e planejadores. Seria atitude até acaciana afirmar que a água e o ar são elementos vitais para nós, tão óbvio isso parece e de fato é. Contudo, são exatamente eles os que menos cuidados têm merecido por parte da maioria das pessoas, que não se dão conta dos riscos enormes que estão correndo com seu descuido e sua imprudência.

Rios, mares, lagos e até reservatórios destinados a abastecer do precioso (e ademais escasso) líquido as grandes cidades mundiais estão, hoje em dia, impregnados de substâncias danosas, quando não venenosas para os que as ingerem. Em novembro de 1987, por exemplo, dois vazamentos de produtos químicos, numa unidade fabril da Suíça e em outra da Alemanha, virtualmente “mataram” o tradicional Rio Reno, cantado e decantado, em verso e prosa, por sua utilidade a uma vasta parte da Europa. Depois, no mesmo ano, o não menos conhecido e não menos importante Volga, na Rússia, correu risco idêntico, ou seja, o de se transformar em mero esgoto a céu aberto, como há décadas ocorre com o nosso Tietê. Episódio mais recente, e catastrófico, é o que ocorreu num distrito das histórica cidade mineira de Mariana, com a ruptura da barragem da empresa Samarco, ligada à Vale, inundando vasta região de lama tóxica e “matando” o importante Rio Doce. Poderia citar outros casos mais recentes, mas não o farei. Acho dispensável. A imprensa trata disso, ou deveria tratar, a todo o momento.

Se fôssemos enumerar os cursos de água “assassinados” pelo homem, iríamos longe, muito longe. Entre nós mesmos, todos os dias, esse tipo de desleixo ocorre, a toda a hora, extinguindo vida e pureza, que jamais serão repostos e que farão falta enorme à humanidade, não em séculos, mas em décadas ou até muito menos do que isso, em escassos anos.

O irônico é que a poluição do ar, por si só nociva, afeta diretamente as águas. São os casos das famosas “chuvas ácidas”, conhecidas desde 1872, quando o britânico Robert Angus Smith as pesquisou na região industrial de Manchester, mas que só agora têm vindo à baila entre técnicos e preservacionistas.

Estudos de circulação atmosférica, realizados nos Estados Unidos, constataram que para a ocorrência desse fenômeno não é necessário que haja uma fonte poluidora de caráter industrial nas proximidades. Indústrias situadas no Nordeste, por exemplo, desde que lancem poluentes na atmosfera, podem provocar uma precipitação ácida na Amazônia, comprometendo a qualidade do líquido da maior bacia hidrográfica do Planeta.

A acidificação afetou, em 1987, 2.500 lagos na Suécia, 1.750 na Noruega e 20% dos existentes no Canadá, causando grande mortandade de peixes. Hoje ela pode ser, sem exagero, multiplicada por dez ou até mais. Para que o leitor tenha uma idéia do que a poluição representa em termos de riscos, basta dizer que, conforme relatório de técnicos da Organização das Nações Unidas, cerca de oito milhões de toneladas de enxofre e trinta e cinco milhões de toneladas de nitrogênio são lançadas anualmente pelo homem na atmosfera. Absurdo dos absurdos! E ninguém faz nada para evitar.

Não é de se admirar, pois, que os casos de doenças respiratórias tenham aumentado tão drasticamente. E nem que o câncer de pele tenha evoluído de forma alarmante. O perigo, no entanto, não está especificamente nesses dois elementos químicos. Outros metais, de altíssima toxicidade, como o mercúrio, o chumbo, o cobre, o zinco e o cádmio, podem atingir as águas subterrâneas, poluindo as fontes que geram os rios, lagos e correntes usados para prover as cidades de água potável.

Por isso, é que alguns já afirmam, não sem razão, que a praga prevista no livro do Apocalipse, da Bíblia, para o final dos tempos, em que todos os mananciais líquidos da Terra se transformariam em sangue, já está em andamento. E como todos os castigos bíblicos, esse também é determinado pelo próprio homem, que é o que sofre diretamente as conseqüências da sua insensatez e olímpica burrice. E ainda chamam a nossa espécie de “Homo Sapiens”... Isso é sabedoria?!!!





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

O conteúdo veiculado nas colunas é de responsabilidade de seus autores.