Ecologia é mais do que conceito

O tema ecologia ainda não penetrou na mente dos cidadãos como deveria, para formar uma consciência de que, caso o meio ambiente não seja preservado, a própria vida desaparecerá da Terra. Alertas desse tipo, mesmo partindo de pessoas comprovadamente especializadas na matéria e de seriedade a toda prova, são encaradas de formas bastante variadas, que vão desde o pânico histérico à olímpica indiferença, quando não de absoluto ceticismo.

Enquanto isso, o Planeta, patrimônio de toda a humanidade e não somente de um país ou grupo deles, se deteriora, visível e crescentemente. O ambientalismo transformou-se em mera moda. Pessoas cujo único objetivo é o de ganhar espaço na mídia, fazem declarações estúpidas a respeito e promovem eventos que não dizem a que vieram, em flagrante desserviço a todos os homens, na medida em que se desmoralizam as campanhas preservacionistas sérias.

Tudo fica ainda mais nebuloso quando o assunto é arrastado para o pantanoso terreno político. Já foi passada para a população, por exemplo, a idéia de que ecologia é uma bandeira nitidamente de esquerda, como se salvar a Terra de um destino parecido ao de Vênus fosse prerrogativa de determinada ideologia e não caso de absoluta emergência.

A Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, FAO, divulga, amiúde, relatórios acerca da acelerada extinção das florestas tropicais, que deveriam tirar o sono de todas as pessoas de bom-senso.Todavia, em virtude da maneira como o assunto foi tratado nos últimos tempos, causando notório descrédito público nos alertas sérios que são feitos, certamente as informações contidas em tais documentos – alguns sequer chegam a ser divulgados pela imprensa – geram, volta e meia, discussões do tipo “nacionalistóide”, com uma corrente culpando o Brasil (com razão), pela irresponsável devastação da Amazônia e com ecologistas de botequim retrucando com questionamentos acerca da não-preservação dos pântanos da Flórida, ou dos mangues do Texas, ou das matas do Oregon, ou do Estado de Washington, por parte dos Estados Unidos.

O enfoque correto não é o de se raciocinar na base do “preserve o seu que eu preservo o meu”, mas do “preservemos nós” o que é patrimônio geral. O equilíbrio da natureza não conhece fronteiras nacionais. Qualquer coisa que se desregula no clima nos confins da Ãsia, finda por se refletir em todas as partes, já que a Terra é um só e único planeta.

Se o coração de uma pessoa falhar, não importa que o restante do seu organismo seja absolutamente sadio, tal indivíduo, fatalmente, morrerá. A mesma e inflexível verdade vale para o nosso planeta. O mais é conversa vazia de quem não tem competência e deseja aparecer.

O crescimento desordenado dos habitantes de um país, por exemplo, e pior. que não possua recursos para absorver novos e crescentes contingentes de pessoas, conduz à ocupação de todos os seus espaços, com crescente desmatamento e progressiva degradação do solo. De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (Nuap), nascem, atualmente, em média, três bebês por segundo no Planeta. Descontando todos os indivíduos que morrem – por doenças, assassinatos, acidentes, guerras, fome ou por velhice – a espaçonave Terra ganha, diariamente, cerca de 250 mil passageiros. É assustador! Onde iremos parar?!

O trágico de tudo isso é que 90% desse explosivo crescimento populacional se verifica exatamente onde a prudência mande que se limite a natalidade, ou seja, nas regiões mais pobres do mundo, chamadas, até de uma forma um tanto irônica, de países em desenvolvimento, quando na verdade o que se observa neles é crescente miserabilidade. A ONU informa que dos mais de 7 bilhões de habitantes terrestres, 1,4 bilhão, o equivalente á população total da China ou quase um quinto da humanidade, vivem em estado de absoluta pobreza. Essa situação é definida como sendo aquela em que o indivíduo não dispõe de nenhuma espécie de renda ou tenha uma tão baixa que seja incapaz de satisfazer as necessidades mínimas para uma sobrevivência digna, como alimentação, moradia, vestuário, saúde, educação, cultura e lazer.

Os povos que convivem com esta realidade findam por lançar mão de todos os recursos de que dispõem. Para alimentar tantas bocas, que aumentam numa velocidade vertiginosa, mais terras são necessárias para o plantio. Agindo mais por desespero do que mediante alguma espécie de planejamento, áreas verdes imensas são postas abaixo, a maioria, como é o caso específico da Amazônia, detentora de solos paupérrimos, para o plantio. Dessa maneira, o mundo vai ficando cada vez mais devastado, poluído e emporcalhado, ameaçando toda a humanidade.

Exige-se ajuda dos países ricos, como se eles fossem obrigados a fazer benemerência constante para aqueles que nunca procuraram se ajudar. Basta que se examine a relação dos grandes compradores de armas da atualidade para se concluir que os clientes por excelência dos “mercadores da morte” são exatamente as sociedades nacionais mais atrasadas, com estruturas sociais mais injustas e por conseqüência mais violentas do chamado Terceiro Mundo. Triste realidade que compete aos jornalistas e escritores trazerem à baila e exigirem providências. Se não...





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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