Mistério e assombro

As pirâmides, sobretudo as do Egito (mas não só elas) continuam gerando controvérsias, debates e polêmicas em torno, principalmente, de como foram construídas, por quem, com qual finalidade e vai por aí afora. Coincidentemente, justo nestes dias em que tenho pesquisado, exaustivamente, em variadas fontes, a esse propósito (por sugestão de alguns leitores, diga-se de passagem), assisti à reprise de um muito bem planejado, executado e editado documentário exibido pelo canal de televisão a cabo Discovery Civilization. Já havia assistido antes a essa produção, tempos atrás, coisa de um ou dois anos, mas não a gravei na oportunidade. Desta vez, todavia, não dormi no ponto.

O que me interessa, por ora, todavia, é o que se refere especificamente à pirâmide de Queops. Não é a mais antiga, suponho, mas é a maior de todas. Entre o que espicaça, sobretudo, minha curiosidade em torno dessa megaconstrução (mas não só isso) é: como uma obra desse porte, que mesmo nos dias de hoje seria inviável, dado seu custo e os inúmeros problemas técnicos que apresentaria, foi erigida há tanto tempo, há pelo menos 4.200 anos (desconfio que há muitos e muitos séculos a mais), quando a imensa maioria da humanidade ainda engatinhava em termos de civilização, vivendo, provavelmente, na era da Pedra Lascada? Sim, caro leitor, como? As informações que o citado documentário do Discovery Civilization, embora detalhado e com a vantagem das imagens, não tem nada de novo que eu já não soubesse. Apenas reproduz “opiniões” (as de sempre) de historiadores e de estudiosos na matéria.

Será que hoje, com toda a tecnologia disponível e com as técnicas modernas de engenharia e de construção, seria possível construir uma réplica, exatamente igual a Queops, nos mínimos detalhes, com o mesmo desenho, mesma altura e mesmos materiais? Creio que sim, levando em conta os grandes feitos dos nossos engenheiros contemporâneos, como o Eurotúnel sob o Canal da Mancha e os mega edifícios de Dubai, da Malásia e da China, entre outros. Resta saber se haveria alguém – alguma corporação ou governo – disposto a investir em um projeto tão complexo e dispendioso desse porte. Bem, nunca se sabe. A quanto ascenderia o investimento para uma aventura como essa? Ascenderia a vários bilhões de dólares, se não a alguns trilhões. Barato é que não seria.

E não venham dizer que a pirâmide de vidro do Louvre, ou a do Luxor, um dos mais famosos hotéis de Las Vegas, sequer chega perto da grandiosidade e complexidade de Queops. Não chega. As duas réplicas não passam nem perto, em qualquer aspecto que se considere, do arranha-céu egípcio (que merece, sem nenhuma dúvida, tal classificação). No entanto, essa obra, que desafia a engenharia atual – a mesmíssima que construiu o até não muito impensável Eurotúnel – foi planejada, e executada em uma época em que a humanidade não conhecia a eletricidade, o motor, ou a força do vapor. Não tinha nenhuma noção nem mesmo dos princípios mais elementares de higiene, como vasos sanitários, por exemplo. Não conhecia, a rigor, coisa alguma. Não é assombroso?

Especular por especular, como historiadores, arqueólogos, egiptólogos e tantos e tantos estudiosos fazem, também posso. Aliás, é só o que se pode fazer diante da falta de documentos da época a respeito. Porém, saber, mas saber mesmo qualquer coisa que se refira à grande pirâmide – e que me perdoem os doutos especialistas – ninguém sabe. A teoria mais difundida sobre como a obra foi erigida é a que especula que os cerca de 2,5 milhões de blocos de pedra calcária que compõem Queops, cada um pesando várias toneladas, foram arrastados de enorme distância. Presume-se que provieram de Siene, nas adjacências de Turah, ao norte do Cairo, por suas características. Ainda hoje, essa distância é considerável. Imaginem naquela época, quando mal havia sido “inventada” a roda! Foram, pois, transportados como?!!! Um pesquisador soviético, no entanto, fez publicar, em junho de 1985 (na ocasião, a URSS ainda não havia se desagregado) nova teoria a esse propósito, que não deixa de ter certa lógica, embora não seja fundamentada em nenhuma prova documental. É, portanto, especulação, como tantas outras.

O referido cientista, chamado Anatoly Vasilyev, disse, ao semanário “Notícias de Moscou”, que não somente Queóps, mas também as pirâmides vizinhas de Quefren, Miquerinos e Rainha Quenteous remanescem de pequena cordilheira granítica que havia no local. “Pelos meus cálculos, as grandes pirâmides só foram construídas em torno de um cerne rochoso. Sem essa estrutura de apoio para o peso, elas simplesmente desmoronariam”, declarou. Com isso, o pesquisador descartou a utilização dos 2,5 milhões de blocos de pedra que, se supõe, constituem a grande pirâmide. Teria sido utilizada a metade ou menos dessa cifra. Mesmo que isso fosse real (e não há a menor evidência que o pesquisador tenha razão), ainda assim seria um feito assombroso e até hoje inexplicado.

Para Vasilyev, a Esfinge teria sido construída pelo mesmo processo. Surgiu, como especulou, de um quinto suposto penhasco dessa pequena cordilheira que supôs serem as espinhas dorsais dos quatro monumentos. Se não se pode dizer, com certeza, que estava certo, também não há como garantir que estava errado. “As mini-cordilheiras serviram de fator determinante dos planos para o trabalho de construção. Os meios de transporte foram montados em sua superfície, com um ângulo de 26 graus e 36 minutos, o que permitiu a instalação dos grandes blocos de pedra ao seu redor”, explicou Anatoly Vasilyev. Todavia, nenhum dos arquitetos e arqueólogos que estiveram no interior da pirâmide de Queops (e estes foram muitos), detectou qualquer estrutura maciça. Em cada parte é visível a junção entre um bloco e outro. A pirâmide está lá, para quem quiser conferir. E há mais um e definitivo detalhe que talvez derrube de vez a teoria do pesquisador soviético: Vasilyev jamais visitou o Egito. Tudo o que disse, portanto, não passa de especulação, como tantas e tantas e tantas que já foram levantadas e derrubadas em torno desse tão intrigante assunto.





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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