Administração de boteco

É impressionante como quase sempre as decisões mais eficientes são as mais simples e óbvias. Sou formado em administração de empresas e em ciências econômicas; concluí dois cursos de pós-graduação em administração financeira; atuei por quase 15 anos como executivo em importantes organizações financeiras internacionais; mas essa formação e essa experiência, de maneira geral, não conseguem explicar os motivos que levam alguém a ter prejuízo com suas aplicações financeiras. A resposta pode ser encontrada nas "sofisticadas" regras de administração de botecos.

Embora simples, é um dos mais preciosos conselhos que o empreendedor deve seguir, independentemente do tamanho do seu negócio.

Imagine que você feche um contrato excepcional, para manter a produção funcionando durante muitos meses, e com boa parte da grana recebida antecipadamente. Ou ainda que os negócios vão de vento em popa, com a fabricação de um produto diferenciado e altamente lucrativo. O que fazer com os recursos? Aplicar todo o dinheiro em um tipo de investimento que rende pouquinho, mas que deixa você dormir sossegado porque é seguro e não vai apresentar surpresa? Talvez fosse mais conveniente aproveitar a boa maré e faturar tudo o que fosse possível e encher a "burra" com os atrativos investimentos mais ousados, que estão rendendo bem há bastante tempo?

Se você optar pela primeira hipótese, e fizer uma aplicação bem conservadora, segura e de retorno irrelevante, provavelmente estará perdendo uma excelente oportunidade de rentabilizar os recursos disponíveis. Por outro lado, você não é jogador, e mesmo que seja não poderá pôr em risco o futuro da empresa colocando os recursos em aplicações sempre sujeitas a chuvas e trovoadas, pois se algo der errado, talvez tenha início um calvário que poderá acompanhá-lo para sempre. Pense bem, a grana dando tchau e você tendo de correr atrás de banco para financiar o "caixa nosso de cada dia".

Já vi empresas que, sem planejamento, usaram todo dinheiro extra na ampliação da fábrica, ficaram sem capital de giro e, com aquele espaço todo ocioso, passaram a andar com o pires na mão tentando manter o fluxo de caixa na base do empréstimo bancário. Outras, também sem planejamento criterioso, investiram tudo em matéria prima e mais tarde tiveram de promover um bota fora desvantajoso para fazer frente aos seus compromissos.

Por isso, olhe com simpatia a sugestão da "administração de caderneta" ao aplicar seu rico dinheirinho. Se a reserva de matéria prima necessitar de compras de segurança para evitar atrasos ou escassez, e os preços oscilarem por fatores imponderáveis, vale à pena destinar parte dos recursos para aumentar um pouco mais esse estoque. Se os negócios estiverem se expandindo, abra o cofre e ponha um pouco na ampliação das instalações. Divida o resto em aplicações de risco moderado, investimentos praticamente sem risco e uma pequena parte em negócios de alta rentabilidade. Se algum desses investimentos não sair de acordo com suas previsões, o resultado geral ainda poderá ser positivo.

Essa administração de boteco, por mais rasteira que possa parecer, ainda não foi superada. Não requer prática, tampouco habilidade, você aprende fazendo. E se posso estender um pouquinho mais essa filosofia interiorana de poupar, leve essa prática também para a vida pessoal - imóveis comerciais e residenciais para alugar, fundo de renda fixa, fundo de renda variável, e, se sobrar, ações para rendimento em longo prazo. Se você não ganhar, também não vai perder, e dorme tranqüilo.





Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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