Chega de dizer 'né?'

Alguns vícios se tornam tão desagradáveis na comunicação que podem prejudicar e até comprometer o resultado da mensagem. Um dos mais comuns e também dos mais irritantes é o 'né?'.

Se você for daqueles que dizem 'né?' com freqüência no final das frases, talvez esteja prejudicando o resultado de suas conversas sociais e de negócios e até de suas apresentações diante das platéias.

Embora o 'né?' seja o vício de maior destaque, ele é apenas um dos componentes de um time de chatos bastante familiares como 'tá?', 'ok?', 'percebe?', 'entendeu?', 'tá certo?' e tantos outros.

Por isso, ainda que eu me refira apenas ao 'né?', saiba que as considerações podem ser aplicadas a todos eles. Veja como esse vício se intromete na comunicação e o que fazer para eliminá-lo.

O 'né?' vai se infiltrando de forma tão sorrateira que você passa a usá-lo sem perceber. Alguns alunos do meu curso ficam surpresos quando percebem na gravação dos seus exercícios que em dois minutos usaram mais de uma dezena de 'né?'.

Portanto, o primeiro passo para afastá-lo da sua comunicação é ter consciência da existência dele. Ao se dar conta de que o 'né?' participa ativamente de suas conversas irá se sentir desconfortável que tenderá a evitá-lo.

No início, como o uso do 'né?' é inconsciente, você terá alguma dificuldade para eliminá-lo de uma vez. É possível que fique revoltado por se sentir impotente para retirá-lo da sua comunicação.

Com o tempo, entretanto, você aumentará o controle e passará a reduzir a incidência até chegar a um número tolerável de dois ou três em uma conversa ou apresentação, o que até faz parte da forma natural de se expressar.

Para saber se o 'né?' é um problema em sua comunicação, quando estiver falando ao telefone use um gravador de áudio comum para gravar sua conversa.

Deixe o aparelho gravando o tempo todo para que possa falar com naturalidade, sem se incomodar com ele. Talvez se surpreenda com o resultado e seja um dos candidatos a trabalhar para afastar o 'né?' da comunicação.

Outro motivo para o surgimento do 'né?' é a insegurança. Minhas pesquisas junto aos alunos do nosso curso de oratória mostram que este é o motivo mais forte para a presença desse vício.

Quando uma pessoa está insegura, de maneira geral, precisa de um retorno positivo dos interlocutores ou da platéia, e fala como se estivesse perguntando: 'Estou sendo claro, né?', 'estou falando bem, né?', 'vocês estão entendendo, né?'

Ainda que esteja inseguro, não revele esse fato aos ouvintes. Fale sempre como se tivesse certeza e estivesse convicto da sua mensagem e se expresse afirmando e não perguntando.

Fique atento: se perceber que o tom e inflexão da voz no final das frases são de quem faz uma pergunta, mude a maneira de falar e conclua a informação como se estivesse afirmando. A não ser, evidentemente, que o seu objetivo seja mesmo o de perguntar.

Trabalhe com afinco para combater esse vício e fique sempre vigilante, pois, se negligenciar, ele reaparecerá nos momentos em que se sentir mais inseguro e vulnerável. Por isso, não vacile, fique sempre muito vigilante.

SUPERDICAS DA SEMANA

* Grave suas conversas ao telefone para verificar se possui o vício do 'né?'
* Se o 'né?' insistir em permanecer, não desanime; com o tempo, ele desaparecerá
* Use a entonação de quem afirma quando desejar afirmar, não de quem pergunta
* Nem sempre o 'né?' é um vício, às vezes verifica a compreensão do interlocutor.






Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu site www.polito.com.br

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