Barulho que machuca

A vida nas grandes cidades, mesmo para os que não conhecem outros lugares - que nasceram e cresceram nelas e nunca saíram dali - é tensa, estressante e difícil. Imaginem o tormento dos que nasceram, cresceram e foram criados em fazendas, sítios, chácaras etc. em contato com a natureza e gozando, entre outras coisas boas, do bem-vindo e providencial silêncio!
Trânsito complicado, poluição, violência e muito barulho são alguns dos principais inconvenientes dessas aglomerações urbanas surreais, algumas com populações equivalentes à de países (a Grande São Paulo tem o dobro de habitantes que Portugal e o mesmo número de moradores do Peru inteiro).
O excesso de ruído, porém, é o fator mais neurotizante e causa terríveis danos, não apenas psicológicos, mas também físicos. Várias pessoas dizem que “adoram” essa confusão. Seriam sinceras? Não sei! Tenho minhas dúvidas. Se adorarem, todavia, certamente é porque não conhecem outro tipo de vida, saudável, tranqüilo, pacato e, sobretudo, silencioso. E, afinal de contas, há gosto para tudo.
São carros que transitam com escapamentos abertos (engraçado, dizem que há fiscalização para averiguar a trafegabilidade dos veículos), buzinas de neuróticos irritados com a lentidão do tráfego, sirenes da polícia, bombeiros ou ambulâncias, é um inferno! Isso quando não há alguma obra nas vizinhanças da nossa casa ou prédio de apartamentos (o que é raro), com seus bate-estacas monótonos ou, pior, com as infernais e hiper-irritantes britadeiras.
Nas ruas de menor movimento, temos que suportar os caminhões de gás, com aquela musiquinha enjoada, de deixar qualquer pessoa equilibrada maluca! E o vozerio?! Principalmente em dia de grandes jogos na cidade, são torcedores que passam sob a nossa janela, aos berros, gritando refrões em louvor aos seus times ou provocações à torcida adversária. E o cidadão equilibrado, que pretenda dormir em paz, ou, pior, se for escritor ou jornalista, e queira fazer seus textos com atenção e concentração, não consegue. Só se colocar um chumaço de algodão nas duas orelhas. E mesmo assim...





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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