Enfático alerta da natureza

Os perigos da destruição da Terra, e consequentemente de tudo o que há sobre ela, aumentaram proporcionalmente ao crescimento populacional e ao poder do homem sobre a natureza, com o desvendamento de vários dos seus segredos. Há um foco potencial de tensão internacional que, estranhamente, não é identificado publicamente por ninguém, nem por governantes, nem por militares, nem pela imprensa e nem pelos intelectuais, mas que existe, está aí, e tende a conduzir países e alianças a guerras de conseqüências imprevisíveis. Não frequenta as manchetes e nem é tema de debates dos responsáveis pela garantia e manutenção da estabilidade política, econômica e social, ou seja, da paz, no mundo, mas é real. Trata-se de eventual disputa por reservas de uma substância aparentemente farta, que, no entanto é rara, e que por isso é sumamente preciosa. E, desavisadamente, damos pouca, ou virtualmente nenhuma, importância para ela.

Nosso Planeta, pelas substâncias de que é formado, convenhamos, tem nome inadequado: Terra! Deveria chamar-se, logicamente, "Água"! Afinal, dois terços de sua superfície são formados por essa incrível substância (formada por dois gases) que assume as três formas da natureza, dependendo das condições de temperatura: sólida, líquida ou gasosa. O terço restante do Planeta é 24% inabitável, por se constituir de regiões rochosas e de desertos arenosos, bem como de solos cobertos de gelo. Desse terço, portanto, restam apenas 76% de solos utilizáveis para o homem habitar, construir cidades, arar e semear e assim obter os alimentos necessários à sobrevivência.

A Terra tem, para que vocês tenham uma idéia da inadequação de seu nome, estimados um sextilhão e quatrocentos e trinta quintilhões de quilos de água! Ou seja, um, vírgula quarenta e três vezes dez elevado à vigésima primeira potência de quilos. Nesta altura vocês, certamente, deverão estar espantados quando se diz que essa substância pode vir a faltar algum dia, diante dessa colossal quantidade. É muita coisa, não é mesmo?! Será que os ecologistas não estão vendo fantasmas? Não estaria havendo um falso e desnecessário alarmismo? Não seria uma manifestação histérica e sem sentido? O que vocês acham?

Frise-se que dessa enorme quantidade de água, 97,4% estão nos oceanos. É, portanto, imprópria para o consumo de animais e vegetais da superfície terrestre (só as espécies marinhas se beneficiam dessa monumental reserva), a menos que seja dessalinizada, para que possa ser usada para beber, irrigar lavouras ou para propósitos industriais, processo, aliás, caríssimo e inviável para a grande, esmagadora maioria dos povos. "Bem, restam ainda as águas dos rios, dos lagos, das fontes subterrâneas e das chuvas", dirão alguns, não sem certa razão. Ocorre que dos 2,6% desse precioso líquido restante, 2% compõem as calotas polares. São, por conseguinte, virtualmente inutilizáveis. E agora?! Sobrou o quê?

Restou, só, 0,6% de água doce, potencialmente potável! Isto, para abastecer a mais de sete bilhões de seres humanos; a bilhões de espécies animais e outro tanto de vegetais! E de ano para ano, quantidades imensas dessa já escassa reserva são inutilizadas pela poluição. Vejam o nosso Rio Tietê! Ou o Pinheiros. Ou o Tamanduateí! Ou o Atibaia, o Jaguari, o Piracicaba, o Capivari. Ou os vários rios, na Amazônia, que formam a maior bacia hidrográfica do Planeta, poluídos de forma burra, absurda, suicida, por mercúrio, lançado por garimpeiros, à procura de míseras gramas de ouro. Ou os do Pantanal, alguns ameaçados de morte iminente, dentro de dois, três, cinco ou dez anos se tanto, se nada for feito para sua preservação. E eu poderia citar milhares de rios, riachos, córregos e ribeirões, através do mundo, que são, virtualmente, nada mais do que esgotos a céu aberto. A substância que corre em seus leitos pode ser tudo, menos água. E muito menos potável.

Como se vê, os ecologistas estão muito distantes de serem alarmistas, histéricos ou catastrofistas, pelo menos neste caso. Muito pelo contrário. Precisariam atuar com muito, muitíssimo mais vigor para alertar a população mundial sobre a necessidade urgente, urgentíssima, de preservação dessa substância tão preciosa e que cada vez escasseia mais, em virtude da insensata ação humana. Outro detalhe a considerar: os rios despejam nos oceanos cerca de 370 quatrilhões de quilos de água doce por ano! Países que contam com bacias hidrográficas do porte das brasileiras e com os depósitos subterrâneos como os que possuímos, se souberem, e puderem, preservar essa riqueza, fatalmente acabarão se tornando imbatíveis potências econômicas. Afinal, só o que é escasso é precioso, conforme reza o axioma básico da Economia!

O Brasil conta com a maior reserva hídrica aproveitável do Planeta, estimada em 12% do total mundial! E o que fazemos com essa água potável, que sequer serve adequadamente à nossa população, já que nossos irmãos nordestinos sofrem, periodicamente, com sua escassez?! Desperdiçamos esse preciosíssimo líquido! Matamos nossos rios! Envenenamos nossas lagoas (todos sabem o que acontece periodicamente na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, onde toneladas e toneladas de peixes morrem em decorrência de despejo de esgotos clandestinos!).

Contribuímos, decisivamente, dessa forma, para a extinção da vida na Terra, em mais duas, três ou no máximo cinco gerações! É incompreensível! Mais do que isso, é insensato e trágico! É uma tentativa coletiva de suicídio no médio prazo. Ou estou exagerando?!

O nível do reservatório da Cantareira – que abastece a Região Metropolitana de São Paulo – aproxima-se, rapidamente, de zero, em decorrência da maior estiagem já ocorrida no Sudeste brasileiro em 84 anos. Seca parecida com esta, porem bem menos intensa, já havia ocorrido em 2001, mas ninguém se preveniu para o que ocorre agora. Pergunto: A culpa é só do clima? Claro que não!

O brasileiro nunca deu devida importância ao bem mais precioso de que o País dispõe: a água potável, claro. As nascentes dos rios são desmatadas. Muitos cursos d'água são poluídos com esgotos domésticos ou com mercúrio para a purificação do ouro por parte de garimpeiros. E outros tantos crimes ambientais continuam sendo cometidos impunemente, mesmo havendo legislação específica para coibi-los. Sem falar, é claro, no desperdício de água potável. Mas os cientistas advertem, há muito tempo, que três grandes problemas, provocados pela ação do homem sobre a natureza, vão se constituir nas principais ameaças à vida no Planeta neste século XXI. O primeiro é o que fazer com toneladas e mais toneladas de lixo, geradas, diariamente, em todas as partes do mundo, em especial nas megalópoles contemporâneas, algumas com mais de vinte milhões de habitantes.

O segundo problema, até aqui insolúvel, refere-se à poluição da atmosfera, principalmente com o gás carbônico emitido por alguns bilhões de veículos automotores ao redor do Planeta. Esse lixo gasoso produz aumento de temperatura na Terra, o chamado "efeito estufa". E "desenha" monumentais catástrofes para breve. O terceiro problema, e o mais grave, diz respeito justamente à substância indispensável para qualquer ser vivo, aparentemente fartíssima, mas que pode vir a faltar, por causa do desperdício e da ausência de uma mentalidade preservacionista. Óbvio, trata-se da água potável. O que está acontecendo neste ano é apenas mais uma advertência da natureza. Mas pode ser o cenário comum deste século, se não se agir com responsabilidade e com sabedoria.





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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