Comunicação exige bom-senso

O profissional de comunicação, seja qual for a área em que atue, tem um compromisso e uma responsabilidade muito grandes para com o público que pretende atingir. O compromisso é o de adotar postura voltada para a prestação de serviços à comunidade, esclarecendo-a, orientando-a e atuando como sua porta-voz. A responsabilidade, por sua vez, decorre exatamente do item anterior.

Quanto maior for a amplitude do meio que o comunicador utilizar, mais responsável ele terá que ser quanto ao que disser ou ao que escrever. Precisará, claro, ter muito critério e muita competência sempre. Deverá ser guiado por um elenco de pressupostos que vão desde o interesse à qualidade do que veicula; da técnica usada à utilidade da comunicação, passando, por aí, o bom-gosto, a inteligência e outras coisas mais, que o jornalista e/ou o radialista conhecem, ou deveriam conhecer de sobejo.

Quem não aceitar isso, espontaneamente, sem imposição ou pressões, estará, evidentemente, em profissão errada. A mensagem que o profissional de comunicação passar, embora possa ser endereçada a um determinado público, bastante específico, terá influências as mais variadas sobre tantas outras faixas da população. Tem que atentar, sempre, para o que, como, com que objetivo e a quem comunicar.

Um comunicador irresponsável pode, até mesmo, provocar sublevação popular, de conseqüências imprevisíveis, sem que sequer se dê conta e mesmo que não seja essa a sua intenção (quase nunca é). Veja-se, por exemplo, o que ocorreu em Paris, em 7 de janeiro de 2015 com a revista satírica Charlie Hebdo, com suas charges “picantes”, envolvendo crenças alheias, sobretudo envolvendo o Islã. Claro que condeno o atentado de que a publicação foi vítima que resultou na morte de doze de seus profissionais. Foi um ato vil, covarde e inconcebível, que deve ser condenado e punido com os rigores da lei. Defendo irrestrita liberdade de expressão. Mas... certos assuntos, até por questão de prudência, não deveriam constar da pauta dos cartunistas dessa publicação. Não se trata de censura, mas apenas de bom senso. Ou de bom gosto.

Confesso que algumas charges de Charlie Hebdo chocaram-me, quando as vi, embora eu me impressione com poucas coisas, quase nada, do que vejo ou leio. Nem por isso, óbvio, estou disposto a sair por aí colocando bombas na redação desse jornal satírico, ou de qualquer outro, e nem a aprovar quem o faça. Claro que não aprovo, em nenhuma circunstância e por motivo algum, essa atitude criminosa e covarde.

Todavia, que benefício, e a quem, essa divulgação, supostamente destinada a apenas fazer rir (mas que no fundo, no fundo, é preconceituosa) trouxe, traz ou trará? Qual a necessidade de se mexer com crenças e convicções alheias, tão arraigadas, mesmo as que consideremos ridículas e frutos de superstições e do atraso (não é o caso), utilizando, como pretexto, o direito da liberdade de expressão? Convém ressaltar e sempre reiterar que um comunicador tem a possibilidade concreta de influenciar idéias, costumes, comportamentos e ações em uma sociedade. Quanto mais liberdade tiver, portanto, maior será, em contrapartida, sua responsabilidade.

Estas considerações vêm a propósito não propriamente do Charlie Hebdo e do atentado que sofreu, mas do desvirtuamento que se vem fazendo, em determinados canais de televisão (e isso não é de hoje) e em alguns horários nem sempre apropriados, da arte do erotismo. Seu limite, em relação à pornografia, é sutil, sutilíssimo e nem todos os expectadores têm critério ou maturidade suficientes para fazerem a distinção.

Não defendo, evidentemente, nenhum tipo de censura, convém reiterar. Aliás, a própria Constituição brasileira a proíbe. O que é necessário é que o próprio comunicador – autor de novela, roteirista de filme ou mesmo escritor de romances – tenha, e exercite, a autocrítica. Que pergunte, a si mesmo, se tem algo inteligente, proveitoso, interessante e construtivo a dizer (ou a escrever, claro). Se a resposta for positiva, que o diga. Caso contrário...

Para se destruir algo ou alguém, seja lá o que ou quem for, não é preciso ser criativo, dispor de muita técnica ou ter um pouquinho a mais de massa cinzenta que a maioria dos mortais comuns. Construir, porém, é tarefa de gigantes, de pessoas especiais, talentosas e de grande visão. Será que é válido, por certa importância em dinheiro (e não importa quanto), um intelectual se expor ao ridículo e alterar (para pior) o comportamento de pessoas mais simples e menos dotadas de capacidade de análise?

A pornografia barata apenas alimenta uma tara, uma doença comportamental, e nada acrescenta a quem quer que seja. Há, evidentemente, quem goste dela. Essas pessoas estão no seu direito – afinal, como preceitua a doutrina, nem tudo o que é legal é moral e vice-versa – mas elas que procurem veículos adequados para satisfazer sua compulsão: um pornoshop, por exemplo, ou fitas de vídeo (que existem, por aí, em profusão) ou outro meio que não seja de livre acesso ao público, em especial às crianças.

Há, infelizmente, hoje em dia, toda uma indústria voltada à pornografia. Exibir bobagens publicamente, todavia, sob o rótulo de arte, é, antes de tudo, fraude. E das mais grotescas e grosseiras. Trata-se de enorme tapeação a quem espera do comunicador mensagens criativas, originais, inteligentes e, sobretudo, construtivas. Além, é claro, de informações precisas, exatas e isentas, pressupostos básicos, mínimos e inquestionáveis, de um jornalismo que se preze.





Jornalista, radicado em Campinas, mas nascido em Horizontina, Rio Grande do Sul. Tem carreira iniciada no rádio, em Santo André, no ABC paulista. Escritor, com dois livros publicados e detentor da cadeira de número 14 da Academia Campinense de Letras. Foi agraciado, pela sua obra jornalística, com o título de Cidadão Campineiro, em 1993. É um dos jornalistas mais veteranos ainda em atividade em Campinas. Atualmente faz trabalhos como freelancer, é cronista do PlanetaNews.com e mantém o blog pedrobondaczuk.blogspot.com. Pontepretano de coração e autêntico "rato de biblioteca". Recebeu, em julho de 2006, a Medalha Carlos Gomes, da Câmara Municipal de Campinas, por sua contribuição às artes e à cultura da cidade.

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