Não faça você mesmo

O "faça você mesmo" nunca esteve tão em alta. Da casinha de cachorro ao crepe suzette, bastam alguns minutos diante da televisão e depois na internet, que todos passam a poder fazer tudo por si mesmos. Essa instantaneidade é ótima. Tornou-se a principal diversão dessas primeiras décadas do século.

Se compararmos com a última metade do século passado, quando a moda era ouvir rádio e depois a passividade do cinema e da televisão, o fazer e aprender é, sem dúvida, o grande entretenimento do novo milênio.

E, como entretenimento, produzir um livro não poderia ficar de fora. Todos querem fazer um livro. O que é ótimo. Fazer livros deve ser aprendido por todos e aprendido na sua inteireza, em elementos essenciais como a importância da boa capa, dos direitos autorais e o bem escrever como fruto maior de se bem ler.

Saber fazer livros pode-se dizer que é também vital na era do conhecimento, algo muito mais forte do que o prazer de um "hobby". Porém, e aqui o alerta, dar início a aventuras autopublicadoras, acreditando nos milagres oferecidos pela Amazon, Google entre outras corporações voltadas ao conteúdo, é que é o temerário.

Começarmos uma carreira de mãos dadas com o sucesso porque publicamos o próprio livro sem qualquer custo e ainda recebendo por isso é um engodo tão redondo que muito lembra os famosos engodos publicitários do século passado, quando fumar era chique e beber álcool nos tornava importantes!

Não! Beber e fumar nunca fizeram bem, ainda mais se praticados em excesso. Quanta gente não morreu nessa conta, e quantos ainda não sofrem de suas consequências. Mas, afinal, quem legitimou essas indústrias? Quem aliou pensamentos de sucesso e felicidade ao que nos era potencialmente venenoso? O mesmo pensamento publicitário e propagandista de sempre, que vendia o prazer e o sucesso ao alcance de um isqueiro.

Você pode receber alguns trocados pelo que os outros compram algo que foi feito por você, que leva seu nome e ideias, mas é bom saber que você também está ajudando, e colaborando (através do seu o direito autoral, como seu tempo de criação e editoração), para a mais barata e boba, porém muito eficaz, promoção de um grande negócio. Os grandes acionistas agradecem.

Fazer por você mesmo é uma boa, não é demais repetir. Porém brincar de editor pode ser tão perigoso como um crepe suzette de produto vencido; pode não matar, mas duvido que engorda. Uma casinha de cachorro mal-feita, em dia de tempestade, pode matar o cachorro, como um livro autopublicado de forma gratuita pode, também, matar o futuro de uma carreira literária. Não brinque com o fogo de sua criação, nossa cultura existe para iluminar o século de nossos filhos. Não a deixemos nas mãos de grandes corporações pouco amigas do nosso conhecimento.





Escritor, poeta e cronista, Paulo Tedesco contribuiu por vários anos para diversos jornais brasileiros na Flórida-EUA. Conheça o Blog do autor - clique aqui!

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